1: 2: 3: 4: 5: 6: 7: 8: 9:

quarta-feira, 15 de maio de 2019

Então eu vi o filme do Capitão América

Minha vida se divide entre Antes do Perfil do Chris Evans na GQ (APCCEGQ) e Depois do Perfil do Chris Evans na GQ (DPCEGQ). O texto é de 2011, mas só chegou até mim em 2016, e Antes do Perfil do Chris Evans na GQ eu achava que o Chris Evans era apenas um Chris no meio do mar de homens brancos e fortes de olhos azuis que Hollywood nos oferece. Também nunca me interessei pelo Capitão América porque sempre achei o discurso nacionalista muito cafona, um julgamento que fiz do personagem com base no seu nome, no uniforme, e no síndico do prédio em que meu pai morava.

Explico: o síndico do prédio que meu pai morava era militar, e além da farda ele realmente vestia a identidade de síndico de prédio. Essa informação foi suficiente pra que meu pai começasse a chamar o síndico de Capitão América pelas costas, e foi suficiente pra que eu associasse o Capitão América, o herói Capitão América, a essa narrativa de síndico de prédio e à síndrome do pequeno poder que vem com o cargo.

Pensando bem, o que é o americanismo se não uma síndrome de síndico de prédio do resto do mundo? Divago...

Proibido som alto depois das 22h
O perfil do Chris Evans na GQ, escrito pela Edith Zimmerman, oferece tudo que uma boa história precisa: tensão sexual, palhaçadinhas, pessoas bonitas e grandes confusões envolvendo uma matéria jornalística completamente irresponsável, tudo isso protagonizado por um homem que é um golden retriever humano. Esse parágrafo é melhor que todos os gibis já escritos.
"But in the days since my first interview with Chris Evans, I'd drunk myself under the table, snuck out of his house at five thirty in the morning, bummed a ride home off a transsexual, been teased mercilessly in front of his mother, and now—this bit in the paper. 
I don't remember touching his chest, which is too bad."
É a história de origem perfeita, o que eu precisava para sedimentar o mito Chris Evans na minha mente e no meu coração, e todo mundo sabe que é preciso um bom mito pra um herói existir.

Outro problema é que as pessoas no geral são PÉSSIMAS pra falar sobre filmes de herói. No caso do Capitão América era todo um papo sobre Segunda Guerra Mundial, patriotismo, vilão nazista megalomaníaco e, sinceramente, quem se importa? No entanto, preciso reconhecer que foi até bem esperta a decisão de ambientar o filme num momento histórico em que o inimigo é claramente outro, é como se o Capitão América fosse o Haddad no segundo turno.

O jeito certo de falar sobre Capitão América: O Primeiro Vingador é dizer que o que move o filme é a relação entre Steve Rodgers e seu melhor amigo, Bucky Barnes. O Capitão América só deixa de ser um instrumento de propaganda americana quando vai pra guerra salvar o Bucky. Essa é a história que fica.

I love boyfriends
Pode ser um desserviço interpretar como romântica qualquer relação afetiva mais explícita entre dois personagens masculinos, mas todas as tentativas de criar uma tensão sexual e romântica entre o Steve e a Agent Carter são tão forçadas nesse filme que quase escuto os roteiristas gritando "NO HOMO" enquanto escrevem as cenas. Depois do Perfil do Chris Evans na GQ, sabemos que o Chris Evans é aquela pessoa capaz de fazer com que qualquer interação pareça um flerte, não explorar isso em todas as frentes possíveis me parece um desperdício do potencial desse prolífico ator.
"I also didn't know how much I was supposed to respond; when I did, it sometimes felt a little like hitting on the bartender or misconstruing the bartender's professional flirting for something more. I wanted to think it was genuine, or that part of it was, because I liked him right away. 
Is this the part of a celebrity profile where I go into how blue the star's eyes are? Because they are very blue."

Vocês vão perceber que muitas das escolhas que faço na vida e depois venho relatar neste diário virtual acontecem porque eu estava triste e precisava de algo para me animar, e não foi diferente com a decisão de assistir Capitão América: O Primeiro Vingador  em abril de 2019. Quando o primeiro filme dos Vingadores chegou aos cinemas eu tinha 18 anos, 2012 era um outro plano astral, e era fácil descartar o Capitão América como um mocinho básico e desinteressante. Lembra quando a gente gostava de anti-heróis? kkk

Sete anos depois acho que não tem nada mais radical do que um herói de coração bão e que quer fazer do mundo um lugar melhor. Depois do Perfil do Chris Evans na GQ eu vi que isso podia ser muito sexy também, e é isso que importa no fim das contas.

7/10

sexta-feira, 10 de maio de 2019

Todos os bons cachorros-quentes vão pro inferno

Não tenho interesse em falar aqui sobre minha relação filosófica e política com o veganismo, mas é importante que vocês saibam que minha família em São Paulo é vegana e eu estou num lento e errático processo de transição que será oficializado quando tiver coragem de assumir isso pra minha família extremamente mineira de Minas Gerais e quando eu sentir que comi toda a minha cota de queijo nessa vida. A gente tem que saber quais batalhas é capaz de lutar.

Na atual conjuntura tenho me permitido comer o que me traz alegria. Na maior parte das vezes, por questões filosóficas, políticas, intestinais, dermatológicas e porque quem tem cogumelo tem tudo nessa vida, uma alimentação vegana é o que tem me trazido alegria, mas tem dias que eu simplesmente preciso comer um cachorro-quente. Quarta-feira foi um desses dias.

A bordo do 80910-U Cidade Universitária - Metrô Barra Funda sempre passo por um carrinho de cachorro-quente próximo da Biblioteca Brasiliana, em frente a praça do Relógio Solar (fonte: divulgação). Depois de olhar o lugar com curiosidade algumas vezes, decidi descer duas paradas antes da minha pra ver qual era. O estabelecimento Big Dog, como o nome sugere, é especializado em cachorro-quente, mas também oferece açaí e mais algumas outras coisas que esqueci. Mas o importante aqui é o cachorro-quente.

(Fonte: acervo pessoal)

O diferencial do estabelecimento Big Dog, como pude notar nas duas vezes em que estive lá, é a possibilidade de substituir o clássico pão de cachorro-quente pelo pão de baguete. Eles cobram uns R$2,00 a mais por isso (valor aproximado), mas faz muita diferença no resultado final. Ouso dizer que a mágica do estabelecimento Big Dog está nesse pão de baguete com parmesão. Também é possível colocar salsichas adicionais por R$1,50 cada (valor aproximado), e acredito que duas salsichas seja a medida ideal se você estuda à noite e, assim como eu, se pega no limiar horrível de antes-da-aula-é-muito-cedo-pra-jantar-mas-se-eu-só-comer-um-lanche-básico-vou-morrer-de-fome-antes-das-21h.

Também é importante que vocês saibam que me considero uma minimalista gastronômica, o que significa que odeio TRENHEIRA (do mineirês: muitos trens, muita coisa, muita informação) na comida. Embora o estabelecimento Big Dog ofereça uma vasta gama de possibilidades de recheio para o cachorro-quente (cheddar, catupiry, milho, ervilha, vinagrete, purê de batata, ketchup, maionese, mostarda, queijo ralado e batata palha), o meu é sempre basiquinho: duas salsichas, ketchup, maionese, mostarda e batata palha. Sinto que o tiozinho fica um pouco chateado diante das minhas sucessivas recusas ("Cheddar?" não, obrigada; "Catupiry?" não, obrigada; "Vinagrete?" não, obrigada, só os molhos e batata palha; "E queijo ralado?" também não, obrigada), mas não é pessoal.

A simpatia desse tiozinho e das outras pessoas que trabalham no estabelecimento Big Dog é outro ponto forte do local, um dia eu vou aceitar o purê de batata só pra ver esse homem sorrir. Em breve pesquisa no Google descobri que o estabelecimento Big Dog é uma empresa familiar que existe há 40 anos na USP, "alimentando gerações". A página deles no Facebook é uma das poucas coisas puras que ainda existem naquela rede social e o Trash Advisor apoia essa causa.

(Fonte: divulgação)

Na minha última visita paguei R$16,50 (valor exato) pelo cachorro-quente + um doce pingo de leite. Não é exatamente barato, mas em São Paulo tudo é caro. Além de ser um lugar que vale a pena frequentar quando se busca aquele carinho estômago, o estabelecimento Big Dog vai além e oferece também um carinho na alma.

8/10

***

Como hoje é sexta-feira, gostaria de deixar vocês com uma #pensata. Pode parecer contraditório eu estar nessa jornada vegana e gostar tanto de cachorro-quente, mas a verdade é que o cachorro-quente é um dos pratos mais facilmente adaptáveis à dieta vegana sem perda de qualidade. A salsicha de origem animal é tão de mentira que é perfeitamente possível substituí-la por um troço igualmente artificial, mas sem proteína animal. O importante são os compostos químicos, o gostinho de césio-137 e a manutenção da tradição fast-food de oferecer um prato meio podrão e sem frescura. Não é o caso do que a maioria dos estabelecimentos faz, vendendo uma proposta gourmet e saudável, e essas pessoas estão erradas. Não faz parte do ethos do bom cachorro-quente ser saudável ou chique.

Devido ao desmonte das universidades públicas ontem eu também precisava muito comer um cachorro-quente e fui atrás dele no estabelecimento Fôrno, no centro de São Paulo. Na verdade eu queria mesmo era comer uma pizza, mas como meus amigos escolheram o hot-dog eu pedi também porque não queria passar vontade. Ele era minimalista do jeito que gosto, com linguiça especial apimentada na medida certa e uma mostarda muito gostosa. A quantidade insana de batata frita transforma isso numa refeição. Adorei, mas era um cachorro-quente de R$25,00 que não oferecia o tipo de emoção que busco quando como um cachorro-quente. Aí não.

(Fonte: acervo pessoal)

É engraçado como existe o mito de que toda alimentação é vegana é saudável. As pessoas descobrem que a bolacha Oreo é vegana como se isso fosse revolucionário, quando na verdade só significa que nada ali é natural ou provém do reino dos céus. Eu acredito nesse potencial do cachorro-quente vegano. Fica aí a reflexão.

You cover up is caving in
Man is such a fool, why are we saving him?
Poisoning themselves now
Begging for our help, wow

quinta-feira, 9 de maio de 2019

809U-10 Cidade Universitária - Metrô Barra Funda

Descobrir a linha 809U-10 Cidade Universitária - Metrô Barra Funda revolucionou a minha vida, o que faz dessa uma resenha completamente enviesada.

Nunca errou (só às vezes)

Teoricamente eu moro perto da USP: são 20 minutos de carro nas condições ideais de temperatura e pressão (CNTP) - a saber, fora do horário de pico, sem chuva ou qualquer outra hecatombe do tipo (guardar para referências futuras). A graça de morar em São Paulo é que esse trajeto de 20 minutos vira fácil uma viagem de uma hora e meia se você pega dois ônibus e faz uma baldeação de metrô, que era o meu percurso antes de descobrir a linha 809U-10 Cidade Universitária - Metrô Barra Funda.

Não é como se essa linha fosse um segredo de estado, mas é que eu tenho muita dificuldade de pegar ônibus em São Paulo porque ou não encontro o ponto certo ou pego o ônibus no sentido errado umas duas vezes até aprender. Só que esse negócio de dois-ônibus-e-uma-baldeação-de-metrô-uma-hora-e-meia-até-chegar-em-casa estava acabando com a minha vida, então resolvi me empoderar e explorar as possibilidades oferecidas pela Secretaria Municipal de Mobilidade e Transportes da cidade de São Paulo (SPTrans).

No primeiro dia que decidi ir pra faculdade com o 809U-10 Cidade Universitária - Metrô Barra Funda eu quase peguei o ônibus no sentido errado e fui me dar conta disso quando vi o ônibus certo passando do outro lado da rua e me deixando pra trás. Foi aí que descobri o único defeito dessa linha: o  809U-10 Cidade Universitária - Metrô Barra Funda demora. Demora bem mais que o intervalo de 15 minutos entre um ônibus e outro que o aplicativo Moovit prevê. O Moovit, aliás, é completamente inútil quando se trata do 809U-10 Cidade Universitária - Metrô Barra Funda, de modo que ter esse ônibus na sua rotina também é um excelente aprendizado, um chamado para abrir mão do controle e simplesmente confiar no universo. 

Eu já passei 50 minutos esperando o 809U-10 Cidade Universitária - Metrô Barra Funda em condições ideais de temperatura e pressão. Eu já quase fui atropelada algumas vezes ao atravessar correndo a Avenida Pompéia porque vi o 809U-10 Cidade Universitária - Metrô Barra Funda se aproximando do ponto do outro lado da rua. Mas o foda é que ele é lindo: a bordo do 809U-10 Cidade Universitária - Metrô Barra Funda eu chego na USP em meia hora.



Além disso, nesse trajeto de ida dá pra ir sentada quase sempre, um dos pontos que mais valorizo na minha rotina de transporte público. E digo mais: se o trajeto do 809U-10 Cidade Universitária - Metrô Barra Funda demorasse uma hora e meia e o rolê dois-ônibus-e-uma-baldeação-de-metrô fosse de meia hora, eu provavelmente escolheria o 809U-10 Cidade Universitária - Metrô Barra Funda só porque gosto muito de ficar sentada olhando a cidade pela janela. Tempo de qualidade.

No trajeto de volta, que costumo fazer no fim do dia - ou seja, longe das condições ideais de temperatura e pressão - costuma ser mais difícil encontrar um lugar vazio pra sentar, mas a maioria das pessoas desce no metrô Vila Madalena. Dentro da USP ele costuma passar em intervalos mais curtos até que os 15 minutos previstos pelo aplicativo Moovit, ou talvez eu só tenha dado sorte na semana passada. Andar no 809U-10 Cidade Universitária - Metrô Barra Funda é uma jornada de serendipidade.

8/10