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terça-feira, 11 de junho de 2019

Borba Gata: O que é isto, a Arte Feia?

Quando a AV [N/E: Anna Vitória] veio falar comigo sobre fazer esse humilde blógue, na época ainda não nomeado, ela me prometeu uma coluna pra eu escrever sobre algo que é a minha verdadeira paixão, mas que também é essencial na história da nossa amizade: a Arte Feia. Como de costume, eu esqueci dessa promessa. Então, a AV criou o blógue e, obviamente, fiquei muito inspirada por tudo nele. Outro dia, AV me lembrou da promessa que tinha feito e fiquei feliz como se fosse a primeira vez que estava recebendo o convite (na minha cabeça, era) e, assim, surgiu a coluna Borba Gata, em homenagem ao Borba Gato, a estátua que melhor resume a Arte Feia. No entanto, é imprescindível dizer que meu nome é Clara e, apesar de eu ser gata, eu não atenderei ao nome de Borba Gata. Esse é apenas o nome desta coluna, não desta pessoa que vos escreve (eu).

Achamos que antes de eu falar de Arte Feia, algumas coisas precisavam ser explicadas. Por exemplo: quem sou eu?, o que é Arte Feia?, o que faz uma Arte Feia ser boa?, qual é o corte? São questões complexas que aqui tento introduzir.

Todos os anjos são filhos de @/deus - Arte feia sob tela do computador ou celular (2018)
(Arte: Clara Browne)
"Quem sou eu?" é uma pergunta muito filosófica pra se responder assim no blogspot.com. No livro O Que é Isto, a Filosofia? (1956), o senhor doutor (aqui estou assumindo que ele era doutor, não vi o lattes dele) Heidegger tenta responder a pergunta dividindo-a em três partes: "o que é o o que?", "o que é o é"?, e finalmente "o que é a filosofia?". Como uma pessoa que não lê, eu não li esse livro. Eu também seria uma pessoa muito chata se aos 24 anos já tivesse lido O Que é Isto, a Filosofia?, do Heidegger. Eu não vou dividir as minhas perguntas em várias outras, mas fica aqui o sonho de ser esse tipo de pessoa, a chata. O que digo a vocês é que meu nome é Clara, é claro, e o resto vocês vão descobrir me lendo e/ ou me seguindo nas redes sociais (fica aqui o apelo: por favor, não me sigam na rua ou em nenhum espaço físico, em pessoa).

Uma Arte Feia e eu meio feia pra combinar
(Foto: acervo pessoal de Clara Browne)

Também digo aqui que eu amo arte. Eu tenho opiniões muito fortes sobre todas, e eu gosto muito de artistas sérios e consagrados, como Yves Klein, Basquiat e Lygia Clark, se for pra jogar uns nomes espertos. Mas se for pra escrever coisa consagrada, eu faço mestrado e doutorado. Aqui, vou falar de algo muito mais importante e pouquíssimo olhado pelos críticos e estudiosos, um nicho gigantesco quando você para pra prestar atenção, a coisa mais assustadora e fascinante que existe na nossa sociedade: a Arte Feia.

Agora diferente de quem sou eu, que pode ser algo meio largado (até porque minha terapeuta me ensinou que a noção de um eu coeso é uma ilusão) (ILUSÃO!!!!!) é importante delinear o que é a Arte Feia. Não vou explicar o que é o o que, ou o que é o é pra isso. Leiam Heidegger se quiserem saber. Também não vou explicar o que é arte, porque esse é um debate interminável. Mas vamos usar aqui a definição capenga e ao mesmo tempo marota que veio com o Modernismo de que Arte É Tudo Aquilo Que Artista Faz. Ou seja (mas mais ou menos): arte é qualquer coisa. Você só tem que Querer que essa qualquer coisa seja arte. Mas Arte Feia não é qualquer coisa que você quiser.

Pra começar, Arte Feia não pode ser bonita. E, por bonita, quero dizer que não pode ser algo que você olha e sente um prazer estético genuíno. A Arte Feia é algo que dói o olhar, que te ofende não por questões políticas, mas por questões estéticas.

Sabe aquela coisa que você odeia tanto que você ama? Aquela coisa que é tão horrível que te faz rir descontroladamente? Aquela imagem tão absurda que faz até o caos ao seu redor parecer razoável? É disso que eu tô falando. É o inexplicável. É a essência do Nada A Vê. É o que alguns chamam de Calamidade. É o Borba Gato, pai da Arte Feia. É a camisa nada a vê do Pluto que eu achei na Zara uma vez. Os leões da Grécia Antiga. O sapato Crocs na cor roxa. São as vacas mais feias da Cow Parade. É, talvez, a existência da Cow Parade por si só. São os bbs Jesus renascentistas.

A Arte Feia atravessa os séculos, desconhece limites geográficos, não se retém a uma única forma, objeto ou artefato.

A Arte Feia é um objeto visual que transcende a necessidade de uma única forma. Pode ser um quadro, uma estátua, uma blusa, um detalhe de uma fonte no parque Trianon. A Arte Feia transcende a própria noção de objeto, fazendo dele Algo Além. É o mesmo sentimento quando você vê um quadro que você gosta. É a mesma admiração, a mesma contemplação, mas às avessas. É algo que você olha e você simplesmente Sabe. É uma experiência transcendental e contemplativa.

A camisa nada a vê do Pluto que eu devia ter comprado
(Foto: acervo do Instagram Stories de Clara Browne)
Agora é importantíssimo que vocês entendam: a Arte Feia não é qualquer objeto visual que é feio. A Arte Feia te deixa FELIS, com s. Ela te desconserta e te tira da sua realidade estética, fazendo disso uma experiência única e memorável. Existem muitas artes que são feias no mundo e nem todas podem ser consideradas Arte Feia. Artes que são feias te deixam triste, te deprimem, fazem você querer desistir de tudo porque o mundo não tem salvação. A Arte Feia é o contrário: ela te enche de uma alegria inexplicável, ela vai sempre trazer a felicidade mesmo que quando apenas na memória, ela te faz acreditar que o mundo pode ser salvo porque Ela, a Arte Feia, existe. E é a isso que essa coluna será dedicada.

Se você não entendeu perfeitamente o conceito, não tem problema. Afinal, esse aqui é apenas um blogspot.com, não um livro teórico. É por isso também que você está lendo: porque é apenas um blogspot.com, não um livro teórico. E eu te respeito por isso. E também entendo que existe um poder nisso, uma potência. E, por isso, por causa dessa potência, que hoje te convido a deixar o mundo mais FELIS junto a mim e à Arte Feia.


Clara Browne é uma pessoa, não um bolinho. Borba Gata é sua coluna para falar de Arte Feia e filosofias de botequim quando enjoar de tanta Arte Feia. Você pode encontra-la no instagram @brownebrownie, no tuíter @BrowneBrownie, na sua newsletter ou na sua casa, mas essa aí fica pros íntimos.

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