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sexta-feira, 7 de junho de 2019

Também sou hype e odeio isso: uma visita ao Tokyo 東 京

- Quem é moderno aí, meu?

Tudo começou a dar errado quando a MTV Brasil - aquela MTV Brasil com a Sarah apresentando o Disk, o canal que me fez querer ser a Marina Person, aquela MTV do Beija Sapo e do Hermes e Renato - acabou. A MTV não era um canal perfeito, mas nos seus melhores momentos ela era capaz de um humor quase anárquico e bastante autoirônico que faz falta nos dias de hoje. O mundo não ficou mais chato por causa do politicamente correto, o mundo ficou mais chato porque a gente não assiste mais Hermes e Renato.

A MTV conseguia rir de si e do seu próprio público sem cair no cinismo que percebo hoje de pessoas que não se permitem gostar de nada, estão o tempo todo brigando pra ver quem é mais autêntico, correto e desconstruído sem construir nada ou enxergar as próprias contradições, enquanto do outro lado têm os sem noção de sempre. A MTV e a cultura jovem criada por ela era muitas vezes ridícula, mas pelo menos ela sabia disso e dava umas risadas.



Toda essa reflexão pra dizer que odiei o ter amado minha primeira visita ao complexo Tokyo 東 京.


Same energy
(Fonte: perfil oficial de Barbara Reis, amiga pessoal e referência em juventude)

Para o complexo Tokyo 東 京 , definir-se é limitar-se. "Rooftop, bar, karaokê, restaurante, exposições, cinema, teatro, design, tattoo, experimentações, instalações, pista de dança com vista para o Copan e o Edifício Itália", é como se apresenta o estabelecimento em sua página oficial. No mesmo site, somos informados que o complexo Tokyo 東 京 fica localizado em "um prédio modernista e tombado de 9 andares, idealizado pelo arquiteto Oswaldo Arthur Bratkeem 1949, bem no meio do coração de São Paulo".

Em sua página no Facebook, o conceito do Tokyo 東 京 é expandido: "Um Bar no Terraço de um prédio. Karaokês inspirados nas noites de Shibuya. Um Restaurante com o clima da capital japonesa. E uma Pista de Dança na cobertura. Tudo isso no mesmo lugar. No centro de São Paulo."

Que raiva de tudo nesse texto!!!!


Minha visita ao complexo Tokyo 東 京 se deu no fim de tarde de um belo domingo de outono, e ouso dizer que essa é a melhor circunstância para se conhecer o local (guarde essa informação). De acordo com o calendário de festas, era dia de Tieta, evento que promete discotecagem de música brasileira na cobertura (rooftop) do prédio, o que você pode traduzir como "festa da esquerda festiva", termos que minha amiga usou ao me convidar na referida ocasião.

Disse que odiei ter adorado a experiência porque poucas vezes me senti tão parte de um TARGET como dentro do complexo Tokyo 東 京. Por conta de sua intensa presença digital na rede social Instagram, era de se pensar que eu estivesse imune aos encantos do local, como a vista do terraço (rooftop) e os letreiros engraçadinhos de neon, mas assim que alcancei o nono andar fui atraída como uma mariposa para o letreiro "ME ABRAÇA ME BEIJA". É claro que tudo ali foi pensado pra isso, para que pessoas como eu se encantassem e fossem quase obrigadas por forças superiores a parar e tirar várias fotos.

Eu era tão o público alvo daquele evento que até mesmo as músicas que tocavam pareciam saídas diretamente da playlist SUCO DE BRASIL (prestigiem!!), de minha autoria, que não tem nada de original e ousada, e esse é justamente o ponto. No complexo Tokyo 東 京, fui forçada a encarar o fato de que no fundo eu sou mesmo uma grande basiquinha. Esse encontro com minha própria banalidade foi importante pra lembrar que quase ninguém é tão especial e único assim, todo singelinho é um bichinho de matar com pedra em potencial. Talvez o seu ponto fraco não seja a mistura de luzes neon em prédios velhos de arquitetura modernista e uma playlist com Timbalada e Banda Eva, mas pouca gente está a salvo de ter sua personalidade traçada numa reunião de publicitário.

Eis aqui um exercício de humildade para essa sexta-feira: que tipo de música o Hermes e Renato faria sobre você?

Meu nome é Anna Vitória e eu contribuo para a publicidade espontânea da cena alternativa de São Paulo e de grandes marcas de cerveja (Foto: acervo pessoal)
E como o grande clichê que sou, é claro que minha sala favorita do complexo Tokyo 東 京 foi o karaokê. A fila pra cantar estava gigante, e a funcionária responsável, além de zoar meu nome, acabou esquecendo de me colocar na lista e eu e meus amigos tivemos que ir embora sem cantar. Mesmo assim o ambiente era agradável, propício para amizades espontâneas, acolhedor pra todo mundo que quisesse cantar junto, as pessoas tinham um excelente repertório e todo mundo parecia ter mais de 25 anos. Acredito que esse cenário mude nos dias e horários mais convencionais para uma casa noturna, mas eu gosto é de festa que acaba cedo e que começa quando os jovens ainda estão se recuperando da ressaca de sábado.

A grande surpresa da noite ficou por conta do casal hétero mais coxa do local, que parecia completamente deslocado, mas que em determinado momento da noite surpreendeu a todos com um inspirado dueto de Cher - Believe.

Preciso dizer que a sala do karaokê tem uma placa com a foto do Bill Murray, e eu disse "ah não" quando vi, mas a verdade é que eu ainda choro sempre que vejo Encontros e Desencontros e lamentei que o local não tivesse perucas cor-de-rosa à disposição - eu assumiria o risco de pegar piolho de desconhecidos para viver essa experiência. Fica aí a sugestão para o complexo Tokyo 東 京.





O único aspecto em que não me encaixo no público alvo do complexo Tokyo 東 京 é em relação ao poder aquisitivo. A entrada nesse dia era gratuita, mas o preço das coisas no bar era meio intransponível, ainda mais para o último domingo do mês. Tomei uma long-neck de R$13 e lembrei por que não frequento baladas de São Paulo. Minha amiga pagou R$10 por uma água de coco.

O saldo final fica por conta da música da finada banda NX Zero que não tive a chance de cantar: entre razões e emoções a saída é fazer valer a pena. Pra mim valeu.

8/10

segunda-feira, 3 de junho de 2019

Usei o Rappi pela primeira vez para pedir um chá e você não vai acreditar no que aconteceu

Às vezes a gente tem que dizer ok pro capitalismo tardio.

Nunca tinha usado o aplicativo Rappi. O conceito de "delivery de qualquer coisa" sempre me causou certo desconforto, que se provou fundamentado depois dessa matéria sobre a rotina dos entregadores, e só o fato do ícone do aplicativo ser um bigode já dá indícios que esse negócio de "delivery de inovação" deve ser coisa de arrombado.

"'A nossa ambição é ser o super aplicativo da América Latina,' disse Ricardo Bechara, co-fundador e diretor de expansão e operações da Rappi Brasil. (Fonte: AmCham)

Navegar pela interface do aplicativo Rappi, com todas as possibilidades que ele oferece - de entrega rápida de camisinhas até a perspectiva de alguém ir ali no banco tirar dinheiro pra você - é uma das experiências mais distópicas que se infiltraram no nosso cotidiano. A estratégia de gamificação embutida no aplicativo Rappi, louvada pelos nossos guerreiros do LinkedIn (claro), me faz desconfiar que estamos pagando caro demais para viver no ano 2037.



Mesmo com todas as tentativas do aplicativo Rappi de me seduzir através do envio de rappicréditos de grandes valores todos os dias, valores que envergonhariam os cupons de R$10 do aplicativo iFood, consegui resistir por bastante tempo. Não me considero acima da condição de aceitar coisas de graça, principalmente comida, mas o aplicativo Rappi é um limite que eu realmente não estava disposta a ultrapassar. Não se pode dar o primeiro gole, etc.

Então eu fiquei gripada.

"O diabo mora nos detalhes", já dizia Leroy, ilustre participante de Instant Hotel, e é por essas frestas que o aplicativo Rappi consegue entrar na sua vida. Semana passada fiquei gripada e depois de passar o dia espirrando e tossindo nas dependências da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, concluí que precisava de um chá para sobreviver à aula do turno da noite.

Mas eu não queria um simples chá de sachê como os disponíveis nas cantinas mais próximas, eu queria um chá diferente, especial, um chá que fosse como um abraço de mãe vendido por grandes corporações. Como se lesse meus pensamentos, o aplicativo Rappi me enviou R$30 em rappicréditos que deveriam ser usados até às 20h59 daquele mesmo dia. Foi então que me despi do meu orgulho e abracei o capeta: não apenas pedi um chá usando o aplicativo Rappi, como pedi um CHAI LATTE direto no STARBUCKS. E um croissant, porque fiquei com vergonha de pedir só um chá.

Com os meus rappicréditos o valor da compra ficou em R$0,30, com mais R$4,00 de gorjeta para Valdinei, o entregador.

(Foto: acervo pessoal)

A odisseia entre o pedido e a entrega via aplicativo Rappi demorou uns 50 minutos, provavelmente o tempo que eu levaria pra ir até em casa fazer um chá no conforto do meu lar ou ir a pé até a unidade mais próxima da Starbucks. É muito, mas está dentro da margem de tempo prometida pelo serviço, foi o tempo que eu precisava pra ler o texto da aula, e esse é o preço que se paga por ser uma grande arrombada pela comodidade.

O delivery de fato demorou cerca de 10 minutos, o que foi muito bom, já que tanto o chá como o croissant chegaram bem quentinhos. O chai latte veio no clássico copo de papel da Starbucks, só que com a abertura vedada com plástico, impedindo que o líquido fosse derrubado no percurso - um dos meus receios iniciais. O gosto era exatamente o do conforto artificial vendido por grandes corporações que eu tanto precisava, idem para o croissant.

Acho importante levar isso em conta na hora de avaliar o que é servido por essas franquias, e dosar as expectativas de acordo, mas os preços da Starbucks são uma afronta a esse pacto civilizatório do fast food. Sem os rappicréditos essa palhaçada custaria R$30,30, e eu jamais repetiria a experiência nesses termos. Importante dizer que não recebi mais nenhum rappicrédito até o fechamento desta edição.


Quando contei sobre a experiência para uma amiga, ela disse: faltou uma consciência de classe aí, hein?, e eu até desisti de ir pra aula depois dessa. Mas eu estava gripada e defendo minhas escolhas. Às vezes a gente precisa dizer ok pro capitalismo tardio.

Aplicativo Rappi: 7/10
Starbucks: 6/10
Anna Vitória: 2/10

quarta-feira, 22 de maio de 2019

Não é sequestro nem tráfico de órgãos, é só o século XXI: minha viagem de Buser

Graças ao Twitter descobri a nova indústria que a precarização do trabalho no capitalismo tardio os millennials irão destruir: os ônibus de viagem. Semana passada viajei de Buser pela primeira vez.

"Viaje de ônibus com 60% de economia", essa é a promessa do aplicativo que conecta pessoas que vão viajar para o mesmo destino com empresas de ônibus de viagem executiva, o famoso FRETADO. Ah, a economia compartilhada! Ainda segundo o site: "Nossa tecnologia compartilhada e sustentável fomenta a mobilidade no Brasil, criando uma nova opção de transporte segura, de qualidade e a preços justos. Assim como já aconteceu no transporte privado por aplicativo nas cidades, é hora do transporte intermunicipal mudar para melhor. E para sempre."


Na prática, é como se você fosse chamar um Uber Juntos pra fazer uma viagem intermunicipal.

Assim como nem sempre você vai encontrar pessoas que estejam indo na mesma direção que você no Uber Juntos, pra viagem no Buser rolar você precisa encontrar um grupo disponível na data e no destino que você quiser, o que nem sempre vai acontecer. Imagino que nas capitais seja mais tranquilo - São Paulo e Rio, por exemplo, têm ônibus todos os dias - mas para o interior, como é o meu caso, só encontrei viagens sexta, domingo e terça, num único horário. Não precisa lotar o ônibus, mas quanto mais gente confirmada, mais barata a viagem fica.

"Ai mas é barato mesmo?"

Minha viagem de São Paulo (SP) para Uberlândia (MG) pelo Buser saiu por R$119,00 o trecho, num ônibus leito. Numa viação tradicional, como a Rode Rotas, esse trajeto sairia por R$207,77 (leito) ou R$149,72 (executivo), o que é razão suficiente pra pegar em armas. Além disso, a primeira viagem de Buser sai por R$10 (sim) e a cada amigo convidado você ganha R$10 de desconto em viagens futuras, as famosas BUSEDAS BUEDAS. Não acredito que não tinha ninguém na sala pra pensar num nome melhor que esse.

Economizar dinheiro é sempre bom, mas a maior vantagem do Buser pra mim veio pelo conforto mesmo. Veja bem, meu caráter foi moldado por longas viagens interestaduais de ônibus. Quando era criança acompanhava minha avó nas colônias de férias da terceira idade ou quando ela viajava para visitar meus primos no estado de São Paulo, sempre de ônibus; já fiz viagens que duraram quase 20 horas em ônibus da universidade e lembro delas como ótimas experiências; ano passado eu viajava quase toda semana. Se eu pudesse escrever qualquer livro já escrito, numa perspectiva realista, acho que escreveria O Livro Amarelo do Terminal, da Vanessa Barbara, sobre a rodoviária do Tietê.

Quase tudo que alguém pode viver dentro de um ônibus eu já vivi, e ainda assim tenho mais medo de viajar de avião do que de ônibus, mesmo que todas as estatísticas digam o contrário. Só que eu ando de saco cheio.

Primeiro, os preços: com as taxas, uma viagem para Uberlândia (MG) custa mais de R$300,00 num ônibus executivo da pior qualidade que vai demorar de 7h a 12h (segundo estimativas do site) pra chegar ao seu destino. É oficialmente mais caro que uma viagem de avião, que dura 50 minutos, mas nem sempre consigo me planejar com a antecedência necessária para conseguir boas tarifas. Pra quem viaja muito o leito está fora de cogitação, então é uma viagem de 7h a 12h (na média, 10h) passando frio numa poltrona desconfortável que nem me cabe direito com a perspectiva de passar a noite em claro e perder duas horas no congestionamento da Anhanguera.


Sempre que começo a falar sobre a Rode Rotas

Com o Buser me senti viajando de primeira classe. Tem travesseiro, mantinha e uma cortininha separando as poltronas, que deitam bastante e estão a uma diferença razoável uma da outra, o suficiente para eu conseguir esticar minhas pernas compridas. Os assentos não são marcados, então recomendo chegar uns 40 minutos mais cedo para garantir as poltronas individuais. Além da segurança de saber que não tem um homem do seu lado, a privacidade é útil para quem emenda compromissos e vai direto viajar: tirei a maquiagem, passei meus cremes e ainda consegui tirar o sutiã por dentro da roupa sem maiores constrangimentos.

O wi-fi prometido, pelo menos no ônibus que peguei, só funciona no perímetro urbano (kkk) e até tem tomada pra colocar o carregador, mas elas ficam numa estrutura fixa no fundo do veículo. Pra mim um dos principais atrativos de longas viagens de ônibus é ter a chance de passar horas incomunicável, sem ninguém me encher o saco, de modo que isso pra mim é mais uma vantagem oferecida pelo Buser.

Dentro do Buser (acervo pessoal)

Outra grande vantagem é o tempo: no Buser, a duração prevista para a viagem é de 9h, mas nas duas viagens que fiz ele chegou em 7h. Esse é o tempo para esse trajeto numa viagem de carro, perfeitamente razoável para um percurso de cerca de 600 km.

Em São Paulo, o Buser sai de um estacionamento na rua Voluntários da Pátria, perto do terminal do Tietê. Se você vai de metrô até a rodoviária são uns cinco minutos andando e até eu que sou idiota achei fácil sem me perder. No entanto, se você é uma mulher viajando sozinha, fazer esse caminho à noite não é a experiência mais tranquila do mundo. Como disse, a chegada estava prevista para às 6h, mas o ônibus chegou às 4h, e a rua Voluntários da Pátria é um lugar onde você definitivamente não quer estar às quatro da manhã. Consegui chamar um Uber ainda na marginal e quando desci ele já estava lá, o que é uma boa alternativa (vale colocar o relógio pra despertar), e também é possível combinar com os outros passageiros de todos irem juntos até o Tietê, que foi o que as pessoas fizeram.

Como não contava com essa rapidez, na ida aconteceu comigo a pior coisa que pode acontecer com alguém: esqueci os fones de ouvido na poltrona. Isso só rolou porque o ônibus também chegou antes do horário previsto (às 4h30 da manhã) e eu estava dormindo tão profundamente que desci sem entender o que estava acontecendo. Numa viagem da viação Rode Rotas, 4h30 da manhã costuma ser o horário em que estou num Graal da BR 050 questionando as minhas decisões de vida, ainda dentro do estado de São Paulo, então vou considerar tudo isso como ponto positivo apesar dos fones (RIP).

Nem lembro a última vez que realmente dormi num ônibus antes do Buser.


Quando contei pra minha mãe ela achou que eu tava metida com ônibus clandestino, mas segundo levantamento do veículo TechTudo o Buser faz parcerias com empresas de ônibus regulares, que pagam ao aplicativo uma comissão, e é assim que o esquema se sustenta. Segundo o site, "a companhia também se responsabiliza pela qualidade dos veículos contratados – os transportes precisam passar por uma auditoria para fazer parte da plataforma. Itens como idade do veículo e histórico de manutenção dos ônibus são avaliados."

A parte que não contei pra minha mãe é que a viagem inteira é feita com um único motorista, que viaja sozinho*, e ele não parecia muito preocupado em conferir a identidade dos passageiros na hora de embarcar. Esses foram os aspectos que me deixaram mais cabreira, mas como já estava lá mesmo fiz a única coisa que poderia fazer no momento: fingi demência e entreguei pra Deus.

O ônibus partiu pontualmente às 21h02 e foi bonito ouvir todas as pessoas no celular avisando que o ônibus estava saindo, tava tudo certinho, a empresa existia mesmo e não era uma emboscada. Aquele sentimento de comunhão que nos une nesse mundo frio, hostil e cheio de picaretagens, em que tudo aquilo que é bom demais parece só uma forma mais sofisticada de golpe. Na maioria das vezes é isso mesmo, mas seguimos. Repetiria a experiência.

8/10

* Edit: A Iris Figueiredo (que inclusive foi a pessoa que me apresentou o Buser, obrigada Iris!) contou que nas viagens que fez entre São Paulo e Rio de Janeiro o ônibus ia com dois motoristas, diferente do que acontecia quando ela pegava uma viação normal. O trecho São Paulo (SP) e Uberlândia (MG) costuma ter dois motoristas na rodoviária ou então troca no meio do caminho, ou seja, não tem como saber.

Errata: Sei lá como, mas no dia que escrevi esse post li BUSEDAS no lugar de BUEDAS. A moeda fictícia do aplicativo Buser se chama BUEDAS e não BUSEDAS. Peço perdão pela confusão.

>> Esse post não é um publieditorial, mas se você se cadastrar no Buser através do meu link eu ganho R$10 em BUSEDAS BUEDAS para viagens futuras, garantindo visitas regulares ao meu poodle, manutenção de sotaque mineiro e experiências em postos de beira de estrada que podem ser compartilhadas aqui. Ajude essa influencer de baixo orçamento e se cadastre na plataforma mesmo se não for viajar: Clique aqui!


sexta-feira, 10 de maio de 2019

Todos os bons cachorros-quentes vão pro inferno

Não tenho interesse em falar aqui sobre minha relação filosófica e política com o veganismo, mas é importante que vocês saibam que minha família em São Paulo é vegana e eu estou num lento e errático processo de transição que será oficializado quando tiver coragem de assumir isso pra minha família extremamente mineira de Minas Gerais e quando eu sentir que comi toda a minha cota de queijo nessa vida. A gente tem que saber quais batalhas é capaz de lutar.

Na atual conjuntura tenho me permitido comer o que me traz alegria. Na maior parte das vezes, por questões filosóficas, políticas, intestinais, dermatológicas e porque quem tem cogumelo tem tudo nessa vida, uma alimentação vegana é o que tem me trazido alegria, mas tem dias que eu simplesmente preciso comer um cachorro-quente. Quarta-feira foi um desses dias.

A bordo do 80910-U Cidade Universitária - Metrô Barra Funda sempre passo por um carrinho de cachorro-quente próximo da Biblioteca Brasiliana, em frente a praça do Relógio Solar (fonte: divulgação). Depois de olhar o lugar com curiosidade algumas vezes, decidi descer duas paradas antes da minha pra ver qual era. O estabelecimento Big Dog, como o nome sugere, é especializado em cachorro-quente, mas também oferece açaí e mais algumas outras coisas que esqueci. Mas o importante aqui é o cachorro-quente.

(Fonte: acervo pessoal)

O diferencial do estabelecimento Big Dog, como pude notar nas duas vezes em que estive lá, é a possibilidade de substituir o clássico pão de cachorro-quente pelo pão de baguete. Eles cobram uns R$2,00 a mais por isso (valor aproximado), mas faz muita diferença no resultado final. Ouso dizer que a mágica do estabelecimento Big Dog está nesse pão de baguete com parmesão. Também é possível colocar salsichas adicionais por R$1,50 cada (valor aproximado), e acredito que duas salsichas seja a medida ideal se você estuda à noite e, assim como eu, se pega no limiar horrível de antes-da-aula-é-muito-cedo-pra-jantar-mas-se-eu-só-comer-um-lanche-básico-vou-morrer-de-fome-antes-das-21h.

Também é importante que vocês saibam que me considero uma minimalista gastronômica, o que significa que odeio TRENHEIRA (do mineirês: muitos trens, muita coisa, muita informação) na comida. Embora o estabelecimento Big Dog ofereça uma vasta gama de possibilidades de recheio para o cachorro-quente (cheddar, catupiry, milho, ervilha, vinagrete, purê de batata, ketchup, maionese, mostarda, queijo ralado e batata palha), o meu é sempre basiquinho: duas salsichas, ketchup, maionese, mostarda e batata palha. Sinto que o tiozinho fica um pouco chateado diante das minhas sucessivas recusas ("Cheddar?" não, obrigada; "Catupiry?" não, obrigada; "Vinagrete?" não, obrigada, só os molhos e batata palha; "E queijo ralado?" também não, obrigada), mas não é pessoal.

A simpatia desse tiozinho e das outras pessoas que trabalham no estabelecimento Big Dog é outro ponto forte do local, um dia eu vou aceitar o purê de batata só pra ver esse homem sorrir. Em breve pesquisa no Google descobri que o estabelecimento Big Dog é uma empresa familiar que existe há 40 anos na USP, "alimentando gerações". A página deles no Facebook é uma das poucas coisas puras que ainda existem naquela rede social e o Trash Advisor apoia essa causa.

(Fonte: divulgação)

Na minha última visita paguei R$16,50 (valor exato) pelo cachorro-quente + um doce pingo de leite. Não é exatamente barato, mas em São Paulo tudo é caro. Além de ser um lugar que vale a pena frequentar quando se busca aquele carinho estômago, o estabelecimento Big Dog vai além e oferece também um carinho na alma.

8/10

***

Como hoje é sexta-feira, gostaria de deixar vocês com uma #pensata. Pode parecer contraditório eu estar nessa jornada vegana e gostar tanto de cachorro-quente, mas a verdade é que o cachorro-quente é um dos pratos mais facilmente adaptáveis à dieta vegana sem perda de qualidade. A salsicha de origem animal é tão de mentira que é perfeitamente possível substituí-la por um troço igualmente artificial, mas sem proteína animal. O importante são os compostos químicos, o gostinho de césio-137 e a manutenção da tradição fast-food de oferecer um prato meio podrão e sem frescura. Não é o caso do que a maioria dos estabelecimentos faz, vendendo uma proposta gourmet e saudável, e essas pessoas estão erradas. Não faz parte do ethos do bom cachorro-quente ser saudável ou chique.

Devido ao desmonte das universidades públicas ontem eu também precisava muito comer um cachorro-quente e fui atrás dele no estabelecimento Fôrno, no centro de São Paulo. Na verdade eu queria mesmo era comer uma pizza, mas como meus amigos escolheram o hot-dog eu pedi também porque não queria passar vontade. Ele era minimalista do jeito que gosto, com linguiça especial apimentada na medida certa e uma mostarda muito gostosa. A quantidade insana de batata frita transforma isso numa refeição. Adorei, mas era um cachorro-quente de R$25,00 que não oferecia o tipo de emoção que busco quando como um cachorro-quente. Aí não.

(Fonte: acervo pessoal)

É engraçado como existe o mito de que toda alimentação é vegana é saudável. As pessoas descobrem que a bolacha Oreo é vegana como se isso fosse revolucionário, quando na verdade só significa que nada ali é natural ou provém do reino dos céus. Eu acredito nesse potencial do cachorro-quente vegano. Fica aí a reflexão.

You cover up is caving in
Man is such a fool, why are we saving him?
Poisoning themselves now
Begging for our help, wow