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sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Borba Gata: A oitava maravilha do mundo

Apesar de todo o horror, toda crueldade, todo o sangue derramado, ouso dizer que os bandeirantes trouxeram o total de 01 (uma) coisa boa à História Mundial: o Borba Gato. Digo, não o Borba Gato, pessoa histórica que participou das Bandeiras, matou e escravizou indígenas, e ainda assassinou um fidalgo (???) e depois fugiu pro sertão de Minas Gerais. Tô falando da impávida e colossal estátua do Borba Gato, na entrada de Santo Amaro, na zona sul de São Paulo.

Impávido colosso (Autor desconhecido)

Muito se fala sobre a cidade de São Paulo. Os lugares escondidos no centro, os skatistas convivendo com os atores na Roosevelt, os lugares moderninhos de Pinheiros, os alternativos todos iguais da Vila Madalena, o orgulho da ZL, e agora ainda temos os homens adultos de terno dirigindo patinetes pelas áreas empresariais. Mas o que muitas vezes se perde em todos os comentários sobre essa cidade que não consegue aceitar o biscoito em seu coração é a gigantesca e confusa região de Santo Amaro.

A região que se tornou município independente em 1833, mas voltou a ser incorporada pela cidade de São Paulo em 1935. A região que mais teve imigrantes alemães da cidade, misturado a um fluxo pesado de migrantes nordestinos. Uma região com tanta gente, tanto comércio inexplicável, e tanto de tudo que é impossível descrever. Santo Amaro é uma experiência de vida. O distrito que abre a gigantesca zona sul de São Paulo (aka: o pescoço da girafa no mapa) e que é aberto pelo impávido Borba Gato.


terça-feira, 24 de setembro de 2019

A corrida espacial do hambúrguer vegetal: o futuro chegou?

Nos anos 60, quando os cientistas quebravam a cabeça em busca de maneiras de levar o homem e alguns cachorros para a lua, o futuro prometia carros voadores, botas prateadas e naves espaciais. Em 2019, enquanto não colonizam o espaço, cientistas e grandes corporações quebram a cabeça em busca de maneiras da fazer o hambúrguer vegetal perfeito.

As pessoas finalmente estão se ligando de que o mundo vai acabar antes que a gente consiga fugir daqui, então é preciso fazer alguma coisa - nem que seja um sanduíche.

Por mim tudo bem.



Futuro, não por acaso, é o nome do "primeiro hambúrguer brasileiro 100% vegetal". Segundo o veículo especializado Prazeres da Mesa, o Futuro Burger é feito a partir de proteína de ervilha, proteína isolada de soja e de grão-de-bico, e beterraba. Com 17 gramas de proteína, a iguaria ambiciona igualar os índices proteicos do Futuro Burguer aos valores nutricionais da carne vermelha.

Mas o pulo do gato está mesmo na FRUIÇÃO do Futuro Burguer. Diferente dos hambúrgueres vegetais que estava acostumada, ele vem com a promessa de oferecer uma experiência muito similar a de um hambúrguer animal, com a mesma cor, textura e suculência de seu parente da indústria pecuária. A beterraba, aliás, faz as vezes do rosadinho da carne - também conhecido como sangue - daquele hamburgão no ponto da casa que o diabo adora.

A primeira vez que provei um Futuro Burguer foi na ocasião de seu lançamento oficial, na feira gastronômica Smorgasburg, o maior festival de comida de rua do mundo que teve sua primeira edição em São Paulo no início de junho de 2019, há 84 anos. No intervalo de uma semana vi tantos releases falando do evento e do hambúrguer que decidi prestigiar a classe (assessoria de imprensa da Fazenda Futuro) e ver qual era.

(Foto: Acervo pessoal)

No quiosque da Lanchonete da Cidade, restaurante que adotou o Futuro Burguer em São Paulo, só era possível pedir o LC Futuro, um X-salada básico 100% vegano feito com queijo Nomoo e maionese vegetal. Custou R$25 e achei meio qualquer nota, pequeno e pouco caprichado, mas dei um desconto pela ocasião da feira e a necessidade de se produzir rápido para evitar filas.

O Futuro Burguer, no entanto, me deixou meio bolada. "Que bruxaria é essa?", pensei depois da primeira mordida ao ver o suco da beterraba escorrendo como sangue. O gosto, contudo, é bem mais leve que o de um hambúrguer artesanal bovino, e imediatamente me veio à mente o gosto de um hambúrguer de peru Sadia, mas de um jeito bom. Nem lembro se já comi um hambúrguer de peru Sadia pra saber. Saldo final: Nem Melhor, Nem Pior, Apenas Diferente.

Após relatar minha experiência no Instagram, meus amigos da rede social me incentivaram a dar uma nova chance à iguaria, mas dessa vez em um dos outros sanduíches da Lanchonete da Cidade. Isso é realmente legal, pena que exclui os veganos da brincadeira: no restaurante, você pode pedir pra substituir qualquer um dos hambúrgueres da casa pelo Futuro Burguer. Experimentei dois: "Cooper" (molho inglês, cheddar Joseph Heller e mostarda dijon no pão de hambúrguer preto) e "Paris" (queijo brie Serra das Antas, cogumelos e molho poivre no pão de estrela).

O veganismo que me perdoe, mas achei os dois bem mais gostosos que o LC Futuro original. Ainda acho os sanduíches da Lanchonete da Cidade pequenos, mas estavam caprichados o suficiente pra valer o preço na faixa de R$26 a R$30, não lembro mais quanto paguei.

"Cooper" @ Lanchonete da Cidade (Foto: Acervo pessoal)

Quando discorri sobre a diferença entre salsichas vegetais e animais, defendi a importância de se emular a experiência completa de se comer um cachorro-quente em vez de soluções alternativas mais saudáveis, tipo a salsicha de cenoura. Não sei se esse pensamento vale para um hambúrguer.

Isso porque, animal ou vegetal, a salsicha é um alimento que em sua essência possui a característica de parecer qualquer coisa, menos algo natural. Portanto, sua origem faz pouca diferença na experiência - nada contra, muito pelo contrário. Já o hambúrguer realmente traz em seu ethos a identidade da carne, e não sei até que ponto isso é bom. Ou melhor, para quem isso é bom.

Para pessoas em transição ou vegetarianos/veganos que sentem muita falta de carne acho o Futuro Burguer uma solução perfeita, para quem apenas quer reduzir o consumo também. Mas ouvi relatos de pessoas que não gostaram justamente porque é tão parecido com carne que chega a causar uma certa repulsa. Ainda não cheguei nesse estágio, mas entendo o incômodo.

Nesses tempos que estive ausente, andei escrevendo sobre economia e negócios (kkkk) e nas minhas pesquisas em veículos startupeiros li muito sobre foodtech e o mercado (rs) plant based, que inclusive é matéria de capa (que coisa mais ANTIGA) da edição mais recente da revista Exame. Como o ano é 2019, o jornalismo acabou e ninguém mais assina revista, vou deixar aqui a chamada da reportagem:

"A reinvenção da comida: carne sintética, superalimentos, ingredientes modificados, produtos orgânicos, com menos gordura, açúcar e sal. Novas tendências de consumo começam a provocar uma revolução na indústria de alimentos em todo o mundo."

A princípio tudo que vem afrontar pra afrontar o agronegócio me interessa, mas tenho lido muito mais sobre a corrida espacial do hambúrguer vegetal em veículos de economia entusiasmados com a novidade do que na minha bolha tilelê. Marcos Leta, empreendedor por trás dos sucos Do Bem (rs) que é o fundador da Fazenda Futuro, parece obstinado em desbancar o mercado da carne, e a próxima fase é tornar o Futuro Burguer mais barato também nos supermercados.

Não vai me surpreender se esse futuro transformar um movimento sobre menos consumo e mais sustentabilidade numa coisa de arrombado, tão inovador quanto colonizar o espaço pra destruir mais um planeta quando esse aqui acabar. Mas ei, nós temos sanduíches!


Diante de todo esse agito, resolvi voltar com o blog na esperança de que algum desses empreendedores me chame pra comer hambúrguer de graça pra depois reclamar deles aqui. Vamos todos morrer mesmo.

Futuro Burguer: 7/10

Edit: A Fazenda Futuro lançou essa semana o Futuro Burguer 2.0, com a promessa de ser uma versão mais saudável e menos gordurosa do primeiro. Meu amigo Gio cobriu o lançamento pelo veículo de tecnologia Gizmondo e contou o que achou da novidade.

terça-feira, 11 de junho de 2019

Borba Gata: O que é isto, a Arte Feia?

Quando a AV [N/E: Anna Vitória] veio falar comigo sobre fazer esse humilde blógue, na época ainda não nomeado, ela me prometeu uma coluna pra eu escrever sobre algo que é a minha verdadeira paixão, mas que também é essencial na história da nossa amizade: a Arte Feia. Como de costume, eu esqueci dessa promessa. Então, a AV criou o blógue e, obviamente, fiquei muito inspirada por tudo nele. Outro dia, AV me lembrou da promessa que tinha feito e fiquei feliz como se fosse a primeira vez que estava recebendo o convite (na minha cabeça, era) e, assim, surgiu a coluna Borba Gata, em homenagem ao Borba Gato, a estátua que melhor resume a Arte Feia. No entanto, é imprescindível dizer que meu nome é Clara e, apesar de eu ser gata, eu não atenderei ao nome de Borba Gata. Esse é apenas o nome desta coluna, não desta pessoa que vos escreve (eu).

Achamos que antes de eu falar de Arte Feia, algumas coisas precisavam ser explicadas. Por exemplo: quem sou eu?, o que é Arte Feia?, o que faz uma Arte Feia ser boa?, qual é o corte? São questões complexas que aqui tento introduzir.

Todos os anjos são filhos de @/deus - Arte feia sob tela do computador ou celular (2018)
(Arte: Clara Browne)
"Quem sou eu?" é uma pergunta muito filosófica pra se responder assim no blogspot.com. No livro O Que é Isto, a Filosofia? (1956), o senhor doutor (aqui estou assumindo que ele era doutor, não vi o lattes dele) Heidegger tenta responder a pergunta dividindo-a em três partes: "o que é o o que?", "o que é o é"?, e finalmente "o que é a filosofia?". Como uma pessoa que não lê, eu não li esse livro. Eu também seria uma pessoa muito chata se aos 24 anos já tivesse lido O Que é Isto, a Filosofia?, do Heidegger. Eu não vou dividir as minhas perguntas em várias outras, mas fica aqui o sonho de ser esse tipo de pessoa, a chata. O que digo a vocês é que meu nome é Clara, é claro, e o resto vocês vão descobrir me lendo e/ ou me seguindo nas redes sociais (fica aqui o apelo: por favor, não me sigam na rua ou em nenhum espaço físico, em pessoa).

Uma Arte Feia e eu meio feia pra combinar
(Foto: acervo pessoal de Clara Browne)

Também digo aqui que eu amo arte. Eu tenho opiniões muito fortes sobre todas, e eu gosto muito de artistas sérios e consagrados, como Yves Klein, Basquiat e Lygia Clark, se for pra jogar uns nomes espertos. Mas se for pra escrever coisa consagrada, eu faço mestrado e doutorado. Aqui, vou falar de algo muito mais importante e pouquíssimo olhado pelos críticos e estudiosos, um nicho gigantesco quando você para pra prestar atenção, a coisa mais assustadora e fascinante que existe na nossa sociedade: a Arte Feia.

Agora diferente de quem sou eu, que pode ser algo meio largado (até porque minha terapeuta me ensinou que a noção de um eu coeso é uma ilusão) (ILUSÃO!!!!!) é importante delinear o que é a Arte Feia. Não vou explicar o que é o o que, ou o que é o é pra isso. Leiam Heidegger se quiserem saber. Também não vou explicar o que é arte, porque esse é um debate interminável. Mas vamos usar aqui a definição capenga e ao mesmo tempo marota que veio com o Modernismo de que Arte É Tudo Aquilo Que Artista Faz. Ou seja (mas mais ou menos): arte é qualquer coisa. Você só tem que Querer que essa qualquer coisa seja arte. Mas Arte Feia não é qualquer coisa que você quiser.

Pra começar, Arte Feia não pode ser bonita. E, por bonita, quero dizer que não pode ser algo que você olha e sente um prazer estético genuíno. A Arte Feia é algo que dói o olhar, que te ofende não por questões políticas, mas por questões estéticas.

Sabe aquela coisa que você odeia tanto que você ama? Aquela coisa que é tão horrível que te faz rir descontroladamente? Aquela imagem tão absurda que faz até o caos ao seu redor parecer razoável? É disso que eu tô falando. É o inexplicável. É a essência do Nada A Vê. É o que alguns chamam de Calamidade. É o Borba Gato, pai da Arte Feia. É a camisa nada a vê do Pluto que eu achei na Zara uma vez. Os leões da Grécia Antiga. O sapato Crocs na cor roxa. São as vacas mais feias da Cow Parade. É, talvez, a existência da Cow Parade por si só. São os bbs Jesus renascentistas.

A Arte Feia atravessa os séculos, desconhece limites geográficos, não se retém a uma única forma, objeto ou artefato.

A Arte Feia é um objeto visual que transcende a necessidade de uma única forma. Pode ser um quadro, uma estátua, uma blusa, um detalhe de uma fonte no parque Trianon. A Arte Feia transcende a própria noção de objeto, fazendo dele Algo Além. É o mesmo sentimento quando você vê um quadro que você gosta. É a mesma admiração, a mesma contemplação, mas às avessas. É algo que você olha e você simplesmente Sabe. É uma experiência transcendental e contemplativa.

A camisa nada a vê do Pluto que eu devia ter comprado
(Foto: acervo do Instagram Stories de Clara Browne)
Agora é importantíssimo que vocês entendam: a Arte Feia não é qualquer objeto visual que é feio. A Arte Feia te deixa FELIS, com s. Ela te desconserta e te tira da sua realidade estética, fazendo disso uma experiência única e memorável. Existem muitas artes que são feias no mundo e nem todas podem ser consideradas Arte Feia. Artes que são feias te deixam triste, te deprimem, fazem você querer desistir de tudo porque o mundo não tem salvação. A Arte Feia é o contrário: ela te enche de uma alegria inexplicável, ela vai sempre trazer a felicidade mesmo que quando apenas na memória, ela te faz acreditar que o mundo pode ser salvo porque Ela, a Arte Feia, existe. E é a isso que essa coluna será dedicada.

Se você não entendeu perfeitamente o conceito, não tem problema. Afinal, esse aqui é apenas um blogspot.com, não um livro teórico. É por isso também que você está lendo: porque é apenas um blogspot.com, não um livro teórico. E eu te respeito por isso. E também entendo que existe um poder nisso, uma potência. E, por isso, por causa dessa potência, que hoje te convido a deixar o mundo mais FELIS junto a mim e à Arte Feia.


Clara Browne é uma pessoa, não um bolinho. Borba Gata é sua coluna para falar de Arte Feia e filosofias de botequim quando enjoar de tanta Arte Feia. Você pode encontra-la no instagram @brownebrownie, no tuíter @BrowneBrownie, na sua newsletter ou na sua casa, mas essa aí fica pros íntimos.

sexta-feira, 7 de junho de 2019

Também sou hype e odeio isso: uma visita ao Tokyo 東 京

- Quem é moderno aí, meu?

Tudo começou a dar errado quando a MTV Brasil - aquela MTV Brasil com a Sarah apresentando o Disk, o canal que me fez querer ser a Marina Person, aquela MTV do Beija Sapo e do Hermes e Renato - acabou. A MTV não era um canal perfeito, mas nos seus melhores momentos ela era capaz de um humor quase anárquico e bastante autoirônico que faz falta nos dias de hoje. O mundo não ficou mais chato por causa do politicamente correto, o mundo ficou mais chato porque a gente não assiste mais Hermes e Renato.

A MTV conseguia rir de si e do seu próprio público sem cair no cinismo que percebo hoje de pessoas que não se permitem gostar de nada, estão o tempo todo brigando pra ver quem é mais autêntico, correto e desconstruído sem construir nada ou enxergar as próprias contradições, enquanto do outro lado têm os sem noção de sempre. A MTV e a cultura jovem criada por ela era muitas vezes ridícula, mas pelo menos ela sabia disso e dava umas risadas.



Toda essa reflexão pra dizer que odiei o ter amado minha primeira visita ao complexo Tokyo 東 京.


Same energy
(Fonte: perfil oficial de Barbara Reis, amiga pessoal e referência em juventude)

Para o complexo Tokyo 東 京 , definir-se é limitar-se. "Rooftop, bar, karaokê, restaurante, exposições, cinema, teatro, design, tattoo, experimentações, instalações, pista de dança com vista para o Copan e o Edifício Itália", é como se apresenta o estabelecimento em sua página oficial. No mesmo site, somos informados que o complexo Tokyo 東 京 fica localizado em "um prédio modernista e tombado de 9 andares, idealizado pelo arquiteto Oswaldo Arthur Bratkeem 1949, bem no meio do coração de São Paulo".

Em sua página no Facebook, o conceito do Tokyo 東 京 é expandido: "Um Bar no Terraço de um prédio. Karaokês inspirados nas noites de Shibuya. Um Restaurante com o clima da capital japonesa. E uma Pista de Dança na cobertura. Tudo isso no mesmo lugar. No centro de São Paulo."

Que raiva de tudo nesse texto!!!!


Minha visita ao complexo Tokyo 東 京 se deu no fim de tarde de um belo domingo de outono, e ouso dizer que essa é a melhor circunstância para se conhecer o local (guarde essa informação). De acordo com o calendário de festas, era dia de Tieta, evento que promete discotecagem de música brasileira na cobertura (rooftop) do prédio, o que você pode traduzir como "festa da esquerda festiva", termos que minha amiga usou ao me convidar na referida ocasião.

Disse que odiei ter adorado a experiência porque poucas vezes me senti tão parte de um TARGET como dentro do complexo Tokyo 東 京. Por conta de sua intensa presença digital na rede social Instagram, era de se pensar que eu estivesse imune aos encantos do local, como a vista do terraço (rooftop) e os letreiros engraçadinhos de neon, mas assim que alcancei o nono andar fui atraída como uma mariposa para o letreiro "ME ABRAÇA ME BEIJA". É claro que tudo ali foi pensado pra isso, para que pessoas como eu se encantassem e fossem quase obrigadas por forças superiores a parar e tirar várias fotos.

Eu era tão o público alvo daquele evento que até mesmo as músicas que tocavam pareciam saídas diretamente da playlist SUCO DE BRASIL (prestigiem!!), de minha autoria, que não tem nada de original e ousada, e esse é justamente o ponto. No complexo Tokyo 東 京, fui forçada a encarar o fato de que no fundo eu sou mesmo uma grande basiquinha. Esse encontro com minha própria banalidade foi importante pra lembrar que quase ninguém é tão especial e único assim, todo singelinho é um bichinho de matar com pedra em potencial. Talvez o seu ponto fraco não seja a mistura de luzes neon em prédios velhos de arquitetura modernista e uma playlist com Timbalada e Banda Eva, mas pouca gente está a salvo de ter sua personalidade traçada numa reunião de publicitário.

Eis aqui um exercício de humildade para essa sexta-feira: que tipo de música o Hermes e Renato faria sobre você?

Meu nome é Anna Vitória e eu contribuo para a publicidade espontânea da cena alternativa de São Paulo e de grandes marcas de cerveja (Foto: acervo pessoal)
E como o grande clichê que sou, é claro que minha sala favorita do complexo Tokyo 東 京 foi o karaokê. A fila pra cantar estava gigante, e a funcionária responsável, além de zoar meu nome, acabou esquecendo de me colocar na lista e eu e meus amigos tivemos que ir embora sem cantar. Mesmo assim o ambiente era agradável, propício para amizades espontâneas, acolhedor pra todo mundo que quisesse cantar junto, as pessoas tinham um excelente repertório e todo mundo parecia ter mais de 25 anos. Acredito que esse cenário mude nos dias e horários mais convencionais para uma casa noturna, mas eu gosto é de festa que acaba cedo e que começa quando os jovens ainda estão se recuperando da ressaca de sábado.

A grande surpresa da noite ficou por conta do casal hétero mais coxa do local, que parecia completamente deslocado, mas que em determinado momento da noite surpreendeu a todos com um inspirado dueto de Cher - Believe.

Preciso dizer que a sala do karaokê tem uma placa com a foto do Bill Murray, e eu disse "ah não" quando vi, mas a verdade é que eu ainda choro sempre que vejo Encontros e Desencontros e lamentei que o local não tivesse perucas cor-de-rosa à disposição - eu assumiria o risco de pegar piolho de desconhecidos para viver essa experiência. Fica aí a sugestão para o complexo Tokyo 東 京.





O único aspecto em que não me encaixo no público alvo do complexo Tokyo 東 京 é em relação ao poder aquisitivo. A entrada nesse dia era gratuita, mas o preço das coisas no bar era meio intransponível, ainda mais para o último domingo do mês. Tomei uma long-neck de R$13 e lembrei por que não frequento baladas de São Paulo. Minha amiga pagou R$10 por uma água de coco.

O saldo final fica por conta da música da finada banda NX Zero que não tive a chance de cantar: entre razões e emoções a saída é fazer valer a pena. Pra mim valeu.

8/10

sábado, 18 de maio de 2019

Juntos e Shallow now: versão brasileira é tudo de bom

A coisa mais insuportável da internet essa semana foram as pessoas rasgando o cu por conta da notícia que Paula Fernandes e Luan Santana vão lançar uma versão nacional da canção "Shallow", trilha de Nasce Uma Estrela, originalmente interpretada por Lady Gaga e Bradley Cooper. Horrível estar em situação de defender Paula Fernandes, mas a música é brega desde a sua primeira versão e nasceu pra isso (tumdumtss), ou seja, agora a coisa só tende a melhorar. Diferente do que aconteceu com o filme, com essa nova canção finalmente teremos um motivo para sorrir.

Tudo bem que a tradução "Juntos e shallow now" pegou todo mundo de surpresa, mas esse tipo de versão não deveria ser novidade para quem mora no Brasil, já que isso é feito desde a Jovem Guarda (fonte: o caso mais antigo que consegui lembrar de cabeça) e Sandy & Junior não estaria aí lotando estádio com ingresso de R$300 se não fosse a Laura Pausini e a Celine Dion.

http://twitter.com

Como bem disse Chico Barney em tweet profético, essa versão brasileira é propriedade moral da dupla e aposto que eles conseguiriam dobrar o tamanho da turnê se "Shallow" fosse o hit do retorno. Felizmente temos aí 20 anos de carreira para fazer um resgate das melhores e mais improváveis versões brasileiras imortalizadas (spoiler!) pelos irmãos que fizeram carreira interpretando canções românticas numa época em que ninguém achava isso estranho.

Com a ajuda do Twitter e dessa playlist preciosa da Ju Gaspar, selecionei alguns destaques entre versões brasileiras by Sandy & Junior e como bônus coloquei alguns grandes momentos internacionais da música muito popular brasileira.


sexta-feira, 10 de maio de 2019

Todos os bons cachorros-quentes vão pro inferno

Não tenho interesse em falar aqui sobre minha relação filosófica e política com o veganismo, mas é importante que vocês saibam que minha família em São Paulo é vegana e eu estou num lento e errático processo de transição que será oficializado quando tiver coragem de assumir isso pra minha família extremamente mineira de Minas Gerais e quando eu sentir que comi toda a minha cota de queijo nessa vida. A gente tem que saber quais batalhas é capaz de lutar.

Na atual conjuntura tenho me permitido comer o que me traz alegria. Na maior parte das vezes, por questões filosóficas, políticas, intestinais, dermatológicas e porque quem tem cogumelo tem tudo nessa vida, uma alimentação vegana é o que tem me trazido alegria, mas tem dias que eu simplesmente preciso comer um cachorro-quente. Quarta-feira foi um desses dias.

A bordo do 80910-U Cidade Universitária - Metrô Barra Funda sempre passo por um carrinho de cachorro-quente próximo da Biblioteca Brasiliana, em frente a praça do Relógio Solar (fonte: divulgação). Depois de olhar o lugar com curiosidade algumas vezes, decidi descer duas paradas antes da minha pra ver qual era. O estabelecimento Big Dog, como o nome sugere, é especializado em cachorro-quente, mas também oferece açaí e mais algumas outras coisas que esqueci. Mas o importante aqui é o cachorro-quente.

(Fonte: acervo pessoal)

O diferencial do estabelecimento Big Dog, como pude notar nas duas vezes em que estive lá, é a possibilidade de substituir o clássico pão de cachorro-quente pelo pão de baguete. Eles cobram uns R$2,00 a mais por isso (valor aproximado), mas faz muita diferença no resultado final. Ouso dizer que a mágica do estabelecimento Big Dog está nesse pão de baguete com parmesão. Também é possível colocar salsichas adicionais por R$1,50 cada (valor aproximado), e acredito que duas salsichas seja a medida ideal se você estuda à noite e, assim como eu, se pega no limiar horrível de antes-da-aula-é-muito-cedo-pra-jantar-mas-se-eu-só-comer-um-lanche-básico-vou-morrer-de-fome-antes-das-21h.

Também é importante que vocês saibam que me considero uma minimalista gastronômica, o que significa que odeio TRENHEIRA (do mineirês: muitos trens, muita coisa, muita informação) na comida. Embora o estabelecimento Big Dog ofereça uma vasta gama de possibilidades de recheio para o cachorro-quente (cheddar, catupiry, milho, ervilha, vinagrete, purê de batata, ketchup, maionese, mostarda, queijo ralado e batata palha), o meu é sempre basiquinho: duas salsichas, ketchup, maionese, mostarda e batata palha. Sinto que o tiozinho fica um pouco chateado diante das minhas sucessivas recusas ("Cheddar?" não, obrigada; "Catupiry?" não, obrigada; "Vinagrete?" não, obrigada, só os molhos e batata palha; "E queijo ralado?" também não, obrigada), mas não é pessoal.

A simpatia desse tiozinho e das outras pessoas que trabalham no estabelecimento Big Dog é outro ponto forte do local, um dia eu vou aceitar o purê de batata só pra ver esse homem sorrir. Em breve pesquisa no Google descobri que o estabelecimento Big Dog é uma empresa familiar que existe há 40 anos na USP, "alimentando gerações". A página deles no Facebook é uma das poucas coisas puras que ainda existem naquela rede social e o Trash Advisor apoia essa causa.

(Fonte: divulgação)

Na minha última visita paguei R$16,50 (valor exato) pelo cachorro-quente + um doce pingo de leite. Não é exatamente barato, mas em São Paulo tudo é caro. Além de ser um lugar que vale a pena frequentar quando se busca aquele carinho estômago, o estabelecimento Big Dog vai além e oferece também um carinho na alma.

8/10

***

Como hoje é sexta-feira, gostaria de deixar vocês com uma #pensata. Pode parecer contraditório eu estar nessa jornada vegana e gostar tanto de cachorro-quente, mas a verdade é que o cachorro-quente é um dos pratos mais facilmente adaptáveis à dieta vegana sem perda de qualidade. A salsicha de origem animal é tão de mentira que é perfeitamente possível substituí-la por um troço igualmente artificial, mas sem proteína animal. O importante são os compostos químicos, o gostinho de césio-137 e a manutenção da tradição fast-food de oferecer um prato meio podrão e sem frescura. Não é o caso do que a maioria dos estabelecimentos faz, vendendo uma proposta gourmet e saudável, e essas pessoas estão erradas. Não faz parte do ethos do bom cachorro-quente ser saudável ou chique.

Devido ao desmonte das universidades públicas ontem eu também precisava muito comer um cachorro-quente e fui atrás dele no estabelecimento Fôrno, no centro de São Paulo. Na verdade eu queria mesmo era comer uma pizza, mas como meus amigos escolheram o hot-dog eu pedi também porque não queria passar vontade. Ele era minimalista do jeito que gosto, com linguiça especial apimentada na medida certa e uma mostarda muito gostosa. A quantidade insana de batata frita transforma isso numa refeição. Adorei, mas era um cachorro-quente de R$25,00 que não oferecia o tipo de emoção que busco quando como um cachorro-quente. Aí não.

(Fonte: acervo pessoal)

É engraçado como existe o mito de que toda alimentação é vegana é saudável. As pessoas descobrem que a bolacha Oreo é vegana como se isso fosse revolucionário, quando na verdade só significa que nada ali é natural ou provém do reino dos céus. Eu acredito nesse potencial do cachorro-quente vegano. Fica aí a reflexão.

You cover up is caving in
Man is such a fool, why are we saving him?
Poisoning themselves now
Begging for our help, wow