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quarta-feira, 12 de junho de 2019

Sexo e a cidade: em busca do bar de date ideal

Em São Paulo todo mundo está procurando um trabalho, um apartamento e um amor. Essa frase não é minha, é da quinta temporada de Sex and the City, e fala sobre a Nova York idealizada de Carrie, Miranda, Charlotte e Samantha, mas minha amiga Tany adora usá-la para falar sobre a nossa vida em São Paulo.

Na semana em que me mudei, sete dias depois do meu aniversário de 25 anos, comecei a assistir Sex and the City. É claro que fiz isso. Não existe nada mais clichê do que ser uma jovem adulta na cidade grande que compara suas experiências com Sex and the City. Por mais que eu não espere encontrar na série um espelho da minha realidade, preciso concordar que todo mundo aqui está mesmo procurando um trabalho, um apartamento e um amor, e parece que eu estou sempre em busca dos três.

Nessa economia o amor tem sido a ambição mais simples de resolver, e por amor eu me refiro também à experiência de sair com uma pessoa, conversar a noite inteira e depois nunca mais falar com ela. Tendo em vista essa motivação, há algumas semanas minha amiga Hianna descobriu um novo bar com potencial para ser um bom bar para dates e eu e Tany fomos as cobaias escolhidas para testar o estabelecimento - afinal, date de amigas é o único date ideal.


Tratava-se do Mundi Bar, em Perdizes, inaugurado em abril desse ano com a promessa de trazer drinks do mundo todo com inspiração nas viagens do empresário, um farmacêutico e bioquímico que largou tudo por sua paixão por viagens e coquetelaria. Uma clássica história de empreendedorismo!!!

Posso falar mais sobre o estabelecimento depois, mas não tenho muitas informações para oferecer pois ficamos bêbadas muito rápido e estávamos no Mundi Bar naquela noite para avaliar algo mais complexo do que comes, bebes e o nível de arrombamento da experiência. Quando saímos de lá para tomar uma cerveja num lugar mais barato, a pergunta que não queria calar era: seria o Mundi Bar um bom bar para dates?

A conclusão foi não, e tal e qual Carrie Bradshaw voltei para casa pensando: numa cidade em que todo mundo está em busca de um amor, o que seria um bar de date ideal?

Inspirada pela montagem tosca no início de cada episódio, fui atrás dos meus amigos em busca de uma resposta para essa urgente questão.


Matrona da busca pelo bar de date perfeito, Hianna Alves - 34, "infelizmente heterossexual" e identificação pessoal com Miranda Hobbes - deu um bom panorama sobre o que se deve buscar nessa empreitada:
"Apesar de andar num momento de extrema preguiça com homens em geral, date costuma ser uma situação gostosinha, mas que me deixa sempre ansiosa. Num primeiro contato, prefiro que seja perto de casa. Assim, se for ruim, não vou ter gastado dinheiro à toa com transporte. Se for bom, já posso quem sabe até estender o date. Também prefiro que seja num lugar no qual eu já esteja familiarizada. Date é uma oportunidade que você tem de conhecer e conversar com a pessoa, então é arriscado demais ir a um lugar desconhecido para ambos. Vai que é barulhento ou cheio de jovens ou cheio de jovens barulhentos? Desastre total.
Aqui em São Paulo a gente encontra muito bar conceito que investe mais em balcão do que em mesa. Eu acho essa ideia simplesmente péssima. Tem que ter mesa pra vocês sentarem um de frente pro outro e formar assim aquela atmosfera gostosa de flerte e de olhares. Cerveja e uns petiscos costumam funcionar bem. Você não corre o risco de ficar bêbada rápido demais (e falar umas bobagens) nem de comer algo muito pesado que pode atrapalhar na hora do beijo."

"Primeiramente elimine todos os espaços de luz alta", é o conselho de Ana Clara, 28, bissexual, sommelier e Charlotte relutante. "Se você sente que durante a noite quer beijar, senta no balcão ou em um sofá.", complementa, mas a dica de ouro é: "Se você não tem certeza do tanto de assunto que vocês vão ter, escolha um lugar que vai ser um assunto em si. Um bar peculiar ou temático."

Barbara Reis, 21 anos, bissexual se descobrindo a verdadeira Carrie Bradshaw do grupo, usou o estabelecimento Buraco, no centro de São Paulo, para ilustrar seu ponto: "É pequeno, intimista, tem mais bancos fofos do que cadeiras, o que te força a sentar do lado do date, o que acho muito propício. Se estivermos pensando em um date heteronormativo, o perigo de andar sozinha pelas ruas do centro pode ser usado como desculpa para estender seu tempo com o date. Sem falar que tem um potencial inegável para trocadilhos, o que eu valorizo enquanto mulher com vênus em sagitário."


Stephanie Noelle, 29 anos, uma amiga chique e uma personagem de Sex and the City sui generis, escolheu o Riviera Bar como seu favorito. "Eu sou muito chata com bar de drinks, bar de date então... A carta de drinks tem que ser ON POINT. Luz baixa, mas não muito escuro pelo amor de Deus. Luz de vela às vezes mas nem sempre."

A iluminação foi um critério apresentado por quase todos os meus amigos. Matheus Fernandes, 25 anos, gay e Samantha - "engraçada e puta" - disse: "Primeiro date tem que ser em bar de amante, não adianta: luzinha baixa, musiquinha de fundo, garçons discretos que não ficam palpitando. De preferência com uma boa carta de drinks, um vinho, caipirinha, e petiscos. Não vai pedir um OMELETE DE SHIMEJI igual o [redacted] fez comigo."

Odhara Caroline, 25, heterossexual, Miranda attitude/ Carrie feelings, lembrou da importância da sobremesa: "Cadeiras confortáveis, um bom espaço entre as mesas e SOBREMESAS pra você dividir um petit gateau com o possível mozão."

A menção ao petit geateau me fez pensar no Paradigma do Bar Ruim proposto por Antonio Prata, o qual já explorei em outra ocasião.
"Se bem que nós, meio intelectuais, quando convidamos uma moça para sair pela primeira vez, atacamos mais de petit gateau do que de frango à passarinho, porque a gente gosta do Brasil e tal, mas na hora do vamos ver uma europazinha bem que ajuda." 
Antonio Prata - Bar ruim é lindo, bicho!
"A maioria dos encontros de Tinder e coisas do tipo eu levo em bar ruim, que na verdade não acho ruim, mas se o encontro for uma bosta eu não tô gastando muito dinheiro", é a estratégia de Tany Monteiro, 30, "lésbica + Harry Styles", a outra Samantha da minha vida. "Sempre levo em boteco que tenha litrão, que nenhum dos meus amigos vai, e perto de casa porque assim não gasto passagem de metrô. Se for uma bosta o date deu tipo R$20 pra cada. Quanto mais trash melhor, não levo pessoas pra comer e se possível um bar que não tenha nem lugar direito pra sentar."

Contudo, para Matheus Fernandes, informalidade e intimidade são privilégios para dates futuros. Matheus foi responsável por introduzir um conceito muito importante na minha vida amorosa, o da quebra da quarta parede, que tem tudo a ver com a iluminação do local e também com a disputa entre bares ruins e sofisticados. Posso explorar isso numa futura oportunidade, mas fica a recomendação pra vocês: "Depois que criar intimidade [quebrar a quarta parede] taca uma luz alta, manda uma hamburgueria, o que você quiser, mas primeiro date é comida leve, carta de drinks bafo e luz baixa."


Outra grande controvérsia entre os entrevistados foi a respeito do lugar onde sentar. Tem gente que gosta de sentar do lado, tem gente que gosta de balcão, tem gente que gosta de sentar de frente. Clara Browne, 24, se identifica com a cidade de Nova York, a quinta protagonista de Sex and the City, e foi taxativa sobre sentar de frente ser a única opção possível: "Date é pra me admirarem, eu ser validada e daí nunca mais ver a pessoa na vida."

Lucas Rocha, 30 anos, gay do Rio de Janeiro e Charlotte com convicção, afirma: "A experiência de sentar de frente foi ruim. Atrapalhava o toque, a aproximação. Do lado é mais fácil de dar uns beijos. Balcão nem." Luisa Pinheiro, 27 anos, lésbica, maranhense vivendo em Curitiba, introduziu uma opinião polêmica: "Aqui em Curi é bom tomar chopp em pé para dates também caso as pessoas não estejam tão cansadas. Se for pra sentar que seja de frente, traumas de Gilmore Girls!!!"

Também não sei escolher: já sentei de frente, de lado, no balcão, em sofás e até no colo, e acho que existe o momento certo para cada uma dessas configurações. Minha única certeza é que odeio sentar como se estivesse pilotando a mesa ao lado da pessoa.


Além dessas questões básicas que introduzi a todos os entrevistados, um tema que surgiu em várias conversas e não pode ser ignorado em 2019 diz respeito ao AMOR LÍQUIDO. A melhor solução foi dada pela Luisa, que disse se identificar com a Mouse de The Carrie Diaries mas é a Samantha de acordo com o teste do Buzzfeed, o que pode ser comprovado empiricamente através da seguinte declaração: "[ O bar de date ideal é] Qualquer um que não seja seu bar preferido pra você não acabar perdendo seu bar pra outra pessoa. Mas pode ser o bar preferido da outra pessoa pois fodasse kkkkk".

Seria o nosso relacionamento com os bares o verdadeiro romance dessa história?

Para garantir representatividade na amostragem da minha pesquisa, achei que seria importante ouvir a opinião de um homem hétero. Afinal, o que querem os homens heterossexuais?
"Nem sei mais o que é isso, não sou de marcar dates. Mas se marcar provavelmente será no Beirute da Asa Norte. O Beirute é um dos bares mais antigos de Brasília, talvez o mais. Na verdade o da Asa Sul, o da Asa Norte abriu um pouco depois mas atualmente é mais frequentado. Gosto disso, de lugares já tradicionais e que grupos variados de pessoas frequentam, não só os jovens. Tenho aversão a lugar de jovem." 
Túlio Amaral, 28, disse que não tem condições de responder qual personagem de Sex and the City mais se identifica e não soube citar um outro personagem de série, então escolheu o Menino Maluquinho. 

Se você está familiarizado com Sex and the City provavelmente sabe que chegamos no final do episódio, o momento em que Carrie Bradshaw tem alguma epifania sobre o tema da vez. Eu já tive dates que começaram em livrarias (infelizmente mais de um), dates de café da manhã, date em que fui direto do trabalho sem saber que era um lugar chique (com piano e luz de velas!!) (dica: sempre tenha um batom vermelho na bolsa), e alguns dates absolutamente perfeitos - seja em bares ruins, em que éramos interrompidos por bêbados e gente querendo vender poesia, ou bar de amante com taça de cristal. Mas eu não sou a Carrie pra tirar uma conclusão a partir de alguma dessas experiências supostamente reveladoras.

Ainda não sei qual personagem de Sex and the City mais me identifico, mas adoro quando dizem que sou "muito Miranda", por isso encerro essa investigação dizendo que estou solteira e disponível para testar bares de date. O importante é a jornada não sei o que não sei o que lá. Feliz dia dos namorados!!

segunda-feira, 3 de junho de 2019

Usei o Rappi pela primeira vez para pedir um chá e você não vai acreditar no que aconteceu

Às vezes a gente tem que dizer ok pro capitalismo tardio.

Nunca tinha usado o aplicativo Rappi. O conceito de "delivery de qualquer coisa" sempre me causou certo desconforto, que se provou fundamentado depois dessa matéria sobre a rotina dos entregadores, e só o fato do ícone do aplicativo ser um bigode já dá indícios que esse negócio de "delivery de inovação" deve ser coisa de arrombado.

"'A nossa ambição é ser o super aplicativo da América Latina,' disse Ricardo Bechara, co-fundador e diretor de expansão e operações da Rappi Brasil. (Fonte: AmCham)

Navegar pela interface do aplicativo Rappi, com todas as possibilidades que ele oferece - de entrega rápida de camisinhas até a perspectiva de alguém ir ali no banco tirar dinheiro pra você - é uma das experiências mais distópicas que se infiltraram no nosso cotidiano. A estratégia de gamificação embutida no aplicativo Rappi, louvada pelos nossos guerreiros do LinkedIn (claro), me faz desconfiar que estamos pagando caro demais para viver no ano 2037.



Mesmo com todas as tentativas do aplicativo Rappi de me seduzir através do envio de rappicréditos de grandes valores todos os dias, valores que envergonhariam os cupons de R$10 do aplicativo iFood, consegui resistir por bastante tempo. Não me considero acima da condição de aceitar coisas de graça, principalmente comida, mas o aplicativo Rappi é um limite que eu realmente não estava disposta a ultrapassar. Não se pode dar o primeiro gole, etc.

Então eu fiquei gripada.

"O diabo mora nos detalhes", já dizia Leroy, ilustre participante de Instant Hotel, e é por essas frestas que o aplicativo Rappi consegue entrar na sua vida. Semana passada fiquei gripada e depois de passar o dia espirrando e tossindo nas dependências da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, concluí que precisava de um chá para sobreviver à aula do turno da noite.

Mas eu não queria um simples chá de sachê como os disponíveis nas cantinas mais próximas, eu queria um chá diferente, especial, um chá que fosse como um abraço de mãe vendido por grandes corporações. Como se lesse meus pensamentos, o aplicativo Rappi me enviou R$30 em rappicréditos que deveriam ser usados até às 20h59 daquele mesmo dia. Foi então que me despi do meu orgulho e abracei o capeta: não apenas pedi um chá usando o aplicativo Rappi, como pedi um CHAI LATTE direto no STARBUCKS. E um croissant, porque fiquei com vergonha de pedir só um chá.

Com os meus rappicréditos o valor da compra ficou em R$0,30, com mais R$4,00 de gorjeta para Valdinei, o entregador.

(Foto: acervo pessoal)

A odisseia entre o pedido e a entrega via aplicativo Rappi demorou uns 50 minutos, provavelmente o tempo que eu levaria pra ir até em casa fazer um chá no conforto do meu lar ou ir a pé até a unidade mais próxima da Starbucks. É muito, mas está dentro da margem de tempo prometida pelo serviço, foi o tempo que eu precisava pra ler o texto da aula, e esse é o preço que se paga por ser uma grande arrombada pela comodidade.

O delivery de fato demorou cerca de 10 minutos, o que foi muito bom, já que tanto o chá como o croissant chegaram bem quentinhos. O chai latte veio no clássico copo de papel da Starbucks, só que com a abertura vedada com plástico, impedindo que o líquido fosse derrubado no percurso - um dos meus receios iniciais. O gosto era exatamente o do conforto artificial vendido por grandes corporações que eu tanto precisava, idem para o croissant.

Acho importante levar isso em conta na hora de avaliar o que é servido por essas franquias, e dosar as expectativas de acordo, mas os preços da Starbucks são uma afronta a esse pacto civilizatório do fast food. Sem os rappicréditos essa palhaçada custaria R$30,30, e eu jamais repetiria a experiência nesses termos. Importante dizer que não recebi mais nenhum rappicrédito até o fechamento desta edição.


Quando contei sobre a experiência para uma amiga, ela disse: faltou uma consciência de classe aí, hein?, e eu até desisti de ir pra aula depois dessa. Mas eu estava gripada e defendo minhas escolhas. Às vezes a gente precisa dizer ok pro capitalismo tardio.

Aplicativo Rappi: 7/10
Starbucks: 6/10
Anna Vitória: 2/10

quarta-feira, 22 de maio de 2019

Não é sequestro nem tráfico de órgãos, é só o século XXI: minha viagem de Buser

Graças ao Twitter descobri a nova indústria que a precarização do trabalho no capitalismo tardio os millennials irão destruir: os ônibus de viagem. Semana passada viajei de Buser pela primeira vez.

"Viaje de ônibus com 60% de economia", essa é a promessa do aplicativo que conecta pessoas que vão viajar para o mesmo destino com empresas de ônibus de viagem executiva, o famoso FRETADO. Ah, a economia compartilhada! Ainda segundo o site: "Nossa tecnologia compartilhada e sustentável fomenta a mobilidade no Brasil, criando uma nova opção de transporte segura, de qualidade e a preços justos. Assim como já aconteceu no transporte privado por aplicativo nas cidades, é hora do transporte intermunicipal mudar para melhor. E para sempre."


Na prática, é como se você fosse chamar um Uber Juntos pra fazer uma viagem intermunicipal.

Assim como nem sempre você vai encontrar pessoas que estejam indo na mesma direção que você no Uber Juntos, pra viagem no Buser rolar você precisa encontrar um grupo disponível na data e no destino que você quiser, o que nem sempre vai acontecer. Imagino que nas capitais seja mais tranquilo - São Paulo e Rio, por exemplo, têm ônibus todos os dias - mas para o interior, como é o meu caso, só encontrei viagens sexta, domingo e terça, num único horário. Não precisa lotar o ônibus, mas quanto mais gente confirmada, mais barata a viagem fica.

"Ai mas é barato mesmo?"

Minha viagem de São Paulo (SP) para Uberlândia (MG) pelo Buser saiu por R$119,00 o trecho, num ônibus leito. Numa viação tradicional, como a Rode Rotas, esse trajeto sairia por R$207,77 (leito) ou R$149,72 (executivo), o que é razão suficiente pra pegar em armas. Além disso, a primeira viagem de Buser sai por R$10 (sim) e a cada amigo convidado você ganha R$10 de desconto em viagens futuras, as famosas BUSEDAS BUEDAS. Não acredito que não tinha ninguém na sala pra pensar num nome melhor que esse.

Economizar dinheiro é sempre bom, mas a maior vantagem do Buser pra mim veio pelo conforto mesmo. Veja bem, meu caráter foi moldado por longas viagens interestaduais de ônibus. Quando era criança acompanhava minha avó nas colônias de férias da terceira idade ou quando ela viajava para visitar meus primos no estado de São Paulo, sempre de ônibus; já fiz viagens que duraram quase 20 horas em ônibus da universidade e lembro delas como ótimas experiências; ano passado eu viajava quase toda semana. Se eu pudesse escrever qualquer livro já escrito, numa perspectiva realista, acho que escreveria O Livro Amarelo do Terminal, da Vanessa Barbara, sobre a rodoviária do Tietê.

Quase tudo que alguém pode viver dentro de um ônibus eu já vivi, e ainda assim tenho mais medo de viajar de avião do que de ônibus, mesmo que todas as estatísticas digam o contrário. Só que eu ando de saco cheio.

Primeiro, os preços: com as taxas, uma viagem para Uberlândia (MG) custa mais de R$300,00 num ônibus executivo da pior qualidade que vai demorar de 7h a 12h (segundo estimativas do site) pra chegar ao seu destino. É oficialmente mais caro que uma viagem de avião, que dura 50 minutos, mas nem sempre consigo me planejar com a antecedência necessária para conseguir boas tarifas. Pra quem viaja muito o leito está fora de cogitação, então é uma viagem de 7h a 12h (na média, 10h) passando frio numa poltrona desconfortável que nem me cabe direito com a perspectiva de passar a noite em claro e perder duas horas no congestionamento da Anhanguera.


Sempre que começo a falar sobre a Rode Rotas

Com o Buser me senti viajando de primeira classe. Tem travesseiro, mantinha e uma cortininha separando as poltronas, que deitam bastante e estão a uma diferença razoável uma da outra, o suficiente para eu conseguir esticar minhas pernas compridas. Os assentos não são marcados, então recomendo chegar uns 40 minutos mais cedo para garantir as poltronas individuais. Além da segurança de saber que não tem um homem do seu lado, a privacidade é útil para quem emenda compromissos e vai direto viajar: tirei a maquiagem, passei meus cremes e ainda consegui tirar o sutiã por dentro da roupa sem maiores constrangimentos.

O wi-fi prometido, pelo menos no ônibus que peguei, só funciona no perímetro urbano (kkk) e até tem tomada pra colocar o carregador, mas elas ficam numa estrutura fixa no fundo do veículo. Pra mim um dos principais atrativos de longas viagens de ônibus é ter a chance de passar horas incomunicável, sem ninguém me encher o saco, de modo que isso pra mim é mais uma vantagem oferecida pelo Buser.

Dentro do Buser (acervo pessoal)

Outra grande vantagem é o tempo: no Buser, a duração prevista para a viagem é de 9h, mas nas duas viagens que fiz ele chegou em 7h. Esse é o tempo para esse trajeto numa viagem de carro, perfeitamente razoável para um percurso de cerca de 600 km.

Em São Paulo, o Buser sai de um estacionamento na rua Voluntários da Pátria, perto do terminal do Tietê. Se você vai de metrô até a rodoviária são uns cinco minutos andando e até eu que sou idiota achei fácil sem me perder. No entanto, se você é uma mulher viajando sozinha, fazer esse caminho à noite não é a experiência mais tranquila do mundo. Como disse, a chegada estava prevista para às 6h, mas o ônibus chegou às 4h, e a rua Voluntários da Pátria é um lugar onde você definitivamente não quer estar às quatro da manhã. Consegui chamar um Uber ainda na marginal e quando desci ele já estava lá, o que é uma boa alternativa (vale colocar o relógio pra despertar), e também é possível combinar com os outros passageiros de todos irem juntos até o Tietê, que foi o que as pessoas fizeram.

Como não contava com essa rapidez, na ida aconteceu comigo a pior coisa que pode acontecer com alguém: esqueci os fones de ouvido na poltrona. Isso só rolou porque o ônibus também chegou antes do horário previsto (às 4h30 da manhã) e eu estava dormindo tão profundamente que desci sem entender o que estava acontecendo. Numa viagem da viação Rode Rotas, 4h30 da manhã costuma ser o horário em que estou num Graal da BR 050 questionando as minhas decisões de vida, ainda dentro do estado de São Paulo, então vou considerar tudo isso como ponto positivo apesar dos fones (RIP).

Nem lembro a última vez que realmente dormi num ônibus antes do Buser.


Quando contei pra minha mãe ela achou que eu tava metida com ônibus clandestino, mas segundo levantamento do veículo TechTudo o Buser faz parcerias com empresas de ônibus regulares, que pagam ao aplicativo uma comissão, e é assim que o esquema se sustenta. Segundo o site, "a companhia também se responsabiliza pela qualidade dos veículos contratados – os transportes precisam passar por uma auditoria para fazer parte da plataforma. Itens como idade do veículo e histórico de manutenção dos ônibus são avaliados."

A parte que não contei pra minha mãe é que a viagem inteira é feita com um único motorista, que viaja sozinho*, e ele não parecia muito preocupado em conferir a identidade dos passageiros na hora de embarcar. Esses foram os aspectos que me deixaram mais cabreira, mas como já estava lá mesmo fiz a única coisa que poderia fazer no momento: fingi demência e entreguei pra Deus.

O ônibus partiu pontualmente às 21h02 e foi bonito ouvir todas as pessoas no celular avisando que o ônibus estava saindo, tava tudo certinho, a empresa existia mesmo e não era uma emboscada. Aquele sentimento de comunhão que nos une nesse mundo frio, hostil e cheio de picaretagens, em que tudo aquilo que é bom demais parece só uma forma mais sofisticada de golpe. Na maioria das vezes é isso mesmo, mas seguimos. Repetiria a experiência.

8/10

* Edit: A Iris Figueiredo (que inclusive foi a pessoa que me apresentou o Buser, obrigada Iris!) contou que nas viagens que fez entre São Paulo e Rio de Janeiro o ônibus ia com dois motoristas, diferente do que acontecia quando ela pegava uma viação normal. O trecho São Paulo (SP) e Uberlândia (MG) costuma ter dois motoristas na rodoviária ou então troca no meio do caminho, ou seja, não tem como saber.

Errata: Sei lá como, mas no dia que escrevi esse post li BUSEDAS no lugar de BUEDAS. A moeda fictícia do aplicativo Buser se chama BUEDAS e não BUSEDAS. Peço perdão pela confusão.

>> Esse post não é um publieditorial, mas se você se cadastrar no Buser através do meu link eu ganho R$10 em BUSEDAS BUEDAS para viagens futuras, garantindo visitas regulares ao meu poodle, manutenção de sotaque mineiro e experiências em postos de beira de estrada que podem ser compartilhadas aqui. Ajude essa influencer de baixo orçamento e se cadastre na plataforma mesmo se não for viajar: Clique aqui!