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terça-feira, 24 de setembro de 2019

A corrida espacial do hambúrguer vegetal: o futuro chegou?

Nos anos 60, quando os cientistas quebravam a cabeça em busca de maneiras de levar o homem e alguns cachorros para a lua, o futuro prometia carros voadores, botas prateadas e naves espaciais. Em 2019, enquanto não colonizam o espaço, cientistas e grandes corporações quebram a cabeça em busca de maneiras da fazer o hambúrguer vegetal perfeito.

As pessoas finalmente estão se ligando de que o mundo vai acabar antes que a gente consiga fugir daqui, então é preciso fazer alguma coisa - nem que seja um sanduíche.

Por mim tudo bem.



Futuro, não por acaso, é o nome do "primeiro hambúrguer brasileiro 100% vegetal". Segundo o veículo especializado Prazeres da Mesa, o Futuro Burger é feito a partir de proteína de ervilha, proteína isolada de soja e de grão-de-bico, e beterraba. Com 17 gramas de proteína, a iguaria ambiciona igualar os índices proteicos do Futuro Burguer aos valores nutricionais da carne vermelha.

Mas o pulo do gato está mesmo na FRUIÇÃO do Futuro Burguer. Diferente dos hambúrgueres vegetais que estava acostumada, ele vem com a promessa de oferecer uma experiência muito similar a de um hambúrguer animal, com a mesma cor, textura e suculência de seu parente da indústria pecuária. A beterraba, aliás, faz as vezes do rosadinho da carne - também conhecido como sangue - daquele hamburgão no ponto da casa que o diabo adora.

A primeira vez que provei um Futuro Burguer foi na ocasião de seu lançamento oficial, na feira gastronômica Smorgasburg, o maior festival de comida de rua do mundo que teve sua primeira edição em São Paulo no início de junho de 2019, há 84 anos. No intervalo de uma semana vi tantos releases falando do evento e do hambúrguer que decidi prestigiar a classe (assessoria de imprensa da Fazenda Futuro) e ver qual era.

(Foto: Acervo pessoal)

No quiosque da Lanchonete da Cidade, restaurante que adotou o Futuro Burguer em São Paulo, só era possível pedir o LC Futuro, um X-salada básico 100% vegano feito com queijo Nomoo e maionese vegetal. Custou R$25 e achei meio qualquer nota, pequeno e pouco caprichado, mas dei um desconto pela ocasião da feira e a necessidade de se produzir rápido para evitar filas.

O Futuro Burguer, no entanto, me deixou meio bolada. "Que bruxaria é essa?", pensei depois da primeira mordida ao ver o suco da beterraba escorrendo como sangue. O gosto, contudo, é bem mais leve que o de um hambúrguer artesanal bovino, e imediatamente me veio à mente o gosto de um hambúrguer de peru Sadia, mas de um jeito bom. Nem lembro se já comi um hambúrguer de peru Sadia pra saber. Saldo final: Nem Melhor, Nem Pior, Apenas Diferente.

Após relatar minha experiência no Instagram, meus amigos da rede social me incentivaram a dar uma nova chance à iguaria, mas dessa vez em um dos outros sanduíches da Lanchonete da Cidade. Isso é realmente legal, pena que exclui os veganos da brincadeira: no restaurante, você pode pedir pra substituir qualquer um dos hambúrgueres da casa pelo Futuro Burguer. Experimentei dois: "Cooper" (molho inglês, cheddar Joseph Heller e mostarda dijon no pão de hambúrguer preto) e "Paris" (queijo brie Serra das Antas, cogumelos e molho poivre no pão de estrela).

O veganismo que me perdoe, mas achei os dois bem mais gostosos que o LC Futuro original. Ainda acho os sanduíches da Lanchonete da Cidade pequenos, mas estavam caprichados o suficiente pra valer o preço na faixa de R$26 a R$30, não lembro mais quanto paguei.

"Cooper" @ Lanchonete da Cidade (Foto: Acervo pessoal)

Quando discorri sobre a diferença entre salsichas vegetais e animais, defendi a importância de se emular a experiência completa de se comer um cachorro-quente em vez de soluções alternativas mais saudáveis, tipo a salsicha de cenoura. Não sei se esse pensamento vale para um hambúrguer.

Isso porque, animal ou vegetal, a salsicha é um alimento que em sua essência possui a característica de parecer qualquer coisa, menos algo natural. Portanto, sua origem faz pouca diferença na experiência - nada contra, muito pelo contrário. Já o hambúrguer realmente traz em seu ethos a identidade da carne, e não sei até que ponto isso é bom. Ou melhor, para quem isso é bom.

Para pessoas em transição ou vegetarianos/veganos que sentem muita falta de carne acho o Futuro Burguer uma solução perfeita, para quem apenas quer reduzir o consumo também. Mas ouvi relatos de pessoas que não gostaram justamente porque é tão parecido com carne que chega a causar uma certa repulsa. Ainda não cheguei nesse estágio, mas entendo o incômodo.

Nesses tempos que estive ausente, andei escrevendo sobre economia e negócios (kkkk) e nas minhas pesquisas em veículos startupeiros li muito sobre foodtech e o mercado (rs) plant based, que inclusive é matéria de capa (que coisa mais ANTIGA) da edição mais recente da revista Exame. Como o ano é 2019, o jornalismo acabou e ninguém mais assina revista, vou deixar aqui a chamada da reportagem:

"A reinvenção da comida: carne sintética, superalimentos, ingredientes modificados, produtos orgânicos, com menos gordura, açúcar e sal. Novas tendências de consumo começam a provocar uma revolução na indústria de alimentos em todo o mundo."

A princípio tudo que vem afrontar pra afrontar o agronegócio me interessa, mas tenho lido muito mais sobre a corrida espacial do hambúrguer vegetal em veículos de economia entusiasmados com a novidade do que na minha bolha tilelê. Marcos Leta, empreendedor por trás dos sucos Do Bem (rs) que é o fundador da Fazenda Futuro, parece obstinado em desbancar o mercado da carne, e a próxima fase é tornar o Futuro Burguer mais barato também nos supermercados.

Não vai me surpreender se esse futuro transformar um movimento sobre menos consumo e mais sustentabilidade numa coisa de arrombado, tão inovador quanto colonizar o espaço pra destruir mais um planeta quando esse aqui acabar. Mas ei, nós temos sanduíches!


Diante de todo esse agito, resolvi voltar com o blog na esperança de que algum desses empreendedores me chame pra comer hambúrguer de graça pra depois reclamar deles aqui. Vamos todos morrer mesmo.

Futuro Burguer: 7/10

Edit: A Fazenda Futuro lançou essa semana o Futuro Burguer 2.0, com a promessa de ser uma versão mais saudável e menos gordurosa do primeiro. Meu amigo Gio cobriu o lançamento pelo veículo de tecnologia Gizmondo e contou o que achou da novidade.

sexta-feira, 24 de maio de 2019

Me tornei aquilo que jurei destruir: bebendo em um bar de mackenzistas

Faz pouco mais de dois meses que me mudei pra São Paulo oficialmente, mas em 2016 passei uma temporada na cidade morando num quarto de hotel pago pela firma na Vila Buarque. Eu ia e voltava a pé do treinamento e passava todos os dias pela rua Maria Antônia no caminho volta, o que significa que de quarta a sexta eu precisava enfrentar uma horda de jovens universitários bebendo em pé pra chegar em casa. Não satisfeitos em ocupar as calçadas, eles ocupavam também boa parte da rua, não davam licença, derrubavam cerveja e faziam gracinha quando eu passava impaciente e de cara fechada no meio de alguma roda. Foi o inverno mais rigoroso de São Paulo dos últimos 20 anos e eu era uma jovem jornalista cansada que só queria tomar uma sopa barata e chegar logo no meu quartinho.

Essa experiência me deu local de fala para odiar o Mackenzie* e tudo que ele representa.

Apesar do Mackenzie, acabei me apegando muito a essa região, e ainda hoje passear por lá me enche de uma nostalgia gostosa desse início de vida na cidade, minha primeira aventura fora de casa e a primeira vez que senti que São Paulo poderia ser minha também. Essa é a única justificativa pra eu ter aceitado tão prontamente e sem questionamentos quando meu amigo sugeriu que parássemos no estabelecimento """Kenzie""" Restaurante e Bar para tomar uma cerveja na última quinta.

Jovens bebendo em pé (Foto: BaresSP)

Segundo o veículo especializado BaresSp:
"O Bar e Restaurante Kenzie foi fundado em 2004, conta com um público jovem e bonito formado pelos universitários da Faculdade Mackenzie e clientes de empresas situadas nas proximidades. Possui um serviço diferenciado de almoço, onde cada dia o restaurante oferece 5 opções extras de pratos, elaboradas pela chef da casa. À noite o destaque fica para as porções que são feitas na hora e servidas quentinhas para o cliente, além de lanches, salgados e todos acompanhados de drinks e cervejas. O estabelecimento trabalha com café expresso onde utilizam grãos 100% arábicos, conferindo um sabor especial ao tradicional cafezinho."
Lendo essa descrição só lembro da seminal crônica de Antonio Prata sobre bares ruins e o fetiche da simplicidade autêntica brasileira. De acordo com a classificação do escritor sobre bares meio ruins, talvez o estabelecimento """Kenzie""" Restaurante e Bar já esteja no estágio de ser frequentado por "meio intelectuais, meio de esquerda, e universitárias mais ou menos gostosas", em vias de ganhar uma matéria na Vejinha. No entanto, uma rápida busca por """Kenzie""" Restaurante e Bar no Google me fez desconfiar que talvez o estabelecimento tenha perdido o momentum necessário para fazer parte da gentrificação do centro expandido de maneira mais concreta. A essência é de um bar universitário, mas como a universidade é o Mackenzie a etnografia se torna mais complexa. Acho que eu era a única mulher no local na última quinta, e portanto a coisa mais próxima de uma universitária mais ou menos gostosa que o ambiente oferecia.

Preciso admitir, contudo, que os universitários do sexo masculino eram mesmo bem bonitinhos. Se você vem do interior, assim como eu, é fácil se emocionar com qualquer barbudinho estiloso que aparece na rua e em estabelecimentos como o """Kenzie""" Restaurante e Bar, ainda que o tempo e a vida na cidade te mostrem que em São Paulo - e principalmente no centro expandido - basta sacudir uma árvore que caem uns 20 do mesmo tipinho, é até difícil diferenciar. Bonitos os rostos enquanto pano de fundo, mas a graça passa quando eles começam a gritar por causa de futebol, o que aconteceu enquanto estive no """Kenzie""" Restaurante e Bar, experiência acompanhada por vários rojões na rua. Não consegui enxergar quem estava jogando na televisão do local.

"Um público jovem e bonito formado pelos universitários da Faculdade Mackenzie e clientes de empresas situadas nas proximidades" (Fonte: BaresSP)

Bom, mas vamos ao que realmente interessa: embora não constasse no cardápio, os litrões disponíveis no dia eram Skol e Brahma, a R$10 cada, um valor dentro da média para a região. Servida no copo americano clássico, a cerveja estava razoavelmente gelada e não tivemos problemas nesse departamento. Infelizmente esse foi o preço mais justo que encontrei em minha experiência no estabelecimento """Kenzie""" Restaurante e Bar. 

O cardápio é bem vasto, com várias opções de prato executivo, sanduíches, porções, drinks e doses. Teoricamente os pratos executivos são servidos apenas no almoço, mas não há informação sobre isso no cardápio, e o garçom que nos atendeu foi um bocado grosso quando meu amigo tentou pedir um nhoque. Depois ele disse que na verdade alguns pratos executivos poderiam ser pedidos (apenas os grelhados), até que ele voltou dizendo que dava pra pedir o nhoque sim.

Meu amigo não sabia, mas a confusão foi o universo tentando dizer que era melhor pedir outra coisa.

O nhoque mais triste do centro expandido de São Paulo (Foto: acervo pessoal)

Não costumo levar a sério todas as opiniões desse meu amigo sobre questões alimentícias pois discordo da maioria dos seus critérios (ele não gosta de queijo), mas o nhoque com iscas de frango estava mesmo difícil de engolir. As unidades de massa eram muito grandes, grossas, e vinham recheadas de um queijo de gosto forte - outra informação que não constava no cardápio - que até eu que gosto bastante de queijo não consegui tolerar. O molho tinha um sabor bem artificial, e a grande ironia é que a parte mais absurda do prato - as iscas de frango - foi a única coisa que prestou.

O nhoque com iscas de frango custou R$22,90, e o valor dos pratos executivos no estabelecimento """Kenzie""" Restaurante e Bar varia entre R$19,90 e R$39,90. Todos os pratos acompanham arroz, feijão, salada e uma "mistura" opcional à escolha do freguês (purê de batata, fritas ou legumes na manteiga). Em São Paulo tudo é caro e o nhoque definitivamente não é a melhor opção nesse setor, mas sabendo escolher e levando em conta a região é possível dizer que dá pra almoçar de forma honesta no estabelecimento """Kenzie""" Restaurante e Bar, ao menos na teoria. Se os pratos são bem servidos ou não terei que descobrir em uma outra oportunidade.



Minha estratégia nessa visita foi escolher algo que estivesse mais alinhado com os pontos fortes da casa, e para minha sorte encontrei uma seção no cardápio em que lia-se ESPECIALIDADES KENZIE. Não tinha comido nada o dia todo e o pastel, meu plano inicial, não oferecia a SUSTÂNCIA necessária para a ocasião. Com isso em mente, o sanduíche chamado de LARICKENZIE me pareceu a melhor opção do cardápio (preciso confessar que um dos fatores que pesou na escolha foi a oportunidade de escrever LARICKENZIE neste diário virtual).

Amigas, que decepção.

Uma ofensa aos lariqueiros desse país (Foto: acervo pessoal)

Pão francês, filé de frango, queijo prato, cebolas refogadas no shoyu e maionese da casa - essa era a promessa do sanduíche LARICKENZIE, que falhou em alcançar seu potencial. O filé de frango era da espessura de uma folha sulfite e as prometidas cebolas refogadas no shoyu se traduziram como uma quantidade assustadora de cebolas num único sanduíche (eu gosto de cebola, mas não vi vantagem). O blend entre o queijo e a maionese da casa salvaram a experiência de ser uma decepção total. Longe de ser um prato indicado para casos de larica, como sugere o cardápio do estabelencimento """Kenzie""" Restaurante e Bar, o sanduíche LARICKENZIE me deixou com fome, e nem era esse o meu estado. Tentei comer um pouco do nhoque com iscas de frango, que meu amigo deixou quase inteiro no prato, mas também não fui feliz.

Agora vem a pior parte, o preço: R$20,90 por um LARICKENZIE ineficiente. Acho que nenhum dos mackenzistas barbudinhos e estilosos presentes no recinto teria a capacidade de me fazer de trouxa nesse nível. 

A grande ironia do nome foi expressa de forma singular pelo meu amigo ao olhar com tristeza seu prato de nhoque:

- Se eu estivesse drogado dava pra bater esse prato inteiro como se fosse a melhor refeição da minha vida. Uma pena.

***

Apesar de não ter tido uma boa experiência, preciso ser justa e reconhecer que, como quase tudo nessa vida, o estabelecimento """Kenzie""" Restaurante e Bar tem um saldo final que é o famoso Vai de Cada Um e do que você espera do seu bar universitário. O acesso fácil pela estação Higienópolis-Mackenzie e os corredores de ônibus da Consolação é um ponto forte a favor e os preços podem ser vantajosos para quem só vai beber ou turmas grandes interessadas em dividir as porções bastante escandalosas de carne. Voltaria no almoço pra experimentar o PF.

Quem busca um ambiente heteronormativo de paquera e azaração também pode se dar bem, mas se você é mulher recomendo paciência e sangue de barata.

"Bom e Barato! Um pouco quente no verão. O Wi-Fi não pega a partir da 3ª mesa, o que acaba sendo uma desculpa para sair e encontrar um (sic) das 501 Mackenzistas da Maria Antônia" (Fonte: Foursquare)

Na condição de pessoa que não gosta de jovem e não gosta de gente, os pontos fortes pra mim foram o preço da cerveja, o banheiro limpo (posso ter dado sorte, mas foi o bar universitário com banheiro mais limpo que já visitei), e as muitas opções de coisas pra comer, que é algo que poucos bares oferecem. Eu sou uma pessoa que precisa comer e é bom ter algo além de batata frita e salgado de estufa. Nesse aspecto, os bares universitários da rua Doutor Cesário Mota Júnior, logo ao lado, deixam a desejar - embora sejam campeões em todo o resto. 

Além disso, a necessidade patológica do jovem de beber em pé na calçada faz com que seja fácil encontrar uma mesa pra sentar e que na parte de dentro o ambiente seja menos insuportável.

5/10

* Depois da última manifestação pela educação eu prometi que não ia mais falar mal de mackenzista como esporte (inclusive tenho amigos que são), de modo que peço que o texto seja lido com o senso de humor necessário. Se você estiver pensando em comentar algo como "nem todo mackenzista não sei o que não sei o que lá" peço por favor que honre a instituição fazendo uso das habilidades de interpretação de texto e me economize.

sexta-feira, 10 de maio de 2019

Todos os bons cachorros-quentes vão pro inferno

Não tenho interesse em falar aqui sobre minha relação filosófica e política com o veganismo, mas é importante que vocês saibam que minha família em São Paulo é vegana e eu estou num lento e errático processo de transição que será oficializado quando tiver coragem de assumir isso pra minha família extremamente mineira de Minas Gerais e quando eu sentir que comi toda a minha cota de queijo nessa vida. A gente tem que saber quais batalhas é capaz de lutar.

Na atual conjuntura tenho me permitido comer o que me traz alegria. Na maior parte das vezes, por questões filosóficas, políticas, intestinais, dermatológicas e porque quem tem cogumelo tem tudo nessa vida, uma alimentação vegana é o que tem me trazido alegria, mas tem dias que eu simplesmente preciso comer um cachorro-quente. Quarta-feira foi um desses dias.

A bordo do 80910-U Cidade Universitária - Metrô Barra Funda sempre passo por um carrinho de cachorro-quente próximo da Biblioteca Brasiliana, em frente a praça do Relógio Solar (fonte: divulgação). Depois de olhar o lugar com curiosidade algumas vezes, decidi descer duas paradas antes da minha pra ver qual era. O estabelecimento Big Dog, como o nome sugere, é especializado em cachorro-quente, mas também oferece açaí e mais algumas outras coisas que esqueci. Mas o importante aqui é o cachorro-quente.

(Fonte: acervo pessoal)

O diferencial do estabelecimento Big Dog, como pude notar nas duas vezes em que estive lá, é a possibilidade de substituir o clássico pão de cachorro-quente pelo pão de baguete. Eles cobram uns R$2,00 a mais por isso (valor aproximado), mas faz muita diferença no resultado final. Ouso dizer que a mágica do estabelecimento Big Dog está nesse pão de baguete com parmesão. Também é possível colocar salsichas adicionais por R$1,50 cada (valor aproximado), e acredito que duas salsichas seja a medida ideal se você estuda à noite e, assim como eu, se pega no limiar horrível de antes-da-aula-é-muito-cedo-pra-jantar-mas-se-eu-só-comer-um-lanche-básico-vou-morrer-de-fome-antes-das-21h.

Também é importante que vocês saibam que me considero uma minimalista gastronômica, o que significa que odeio TRENHEIRA (do mineirês: muitos trens, muita coisa, muita informação) na comida. Embora o estabelecimento Big Dog ofereça uma vasta gama de possibilidades de recheio para o cachorro-quente (cheddar, catupiry, milho, ervilha, vinagrete, purê de batata, ketchup, maionese, mostarda, queijo ralado e batata palha), o meu é sempre basiquinho: duas salsichas, ketchup, maionese, mostarda e batata palha. Sinto que o tiozinho fica um pouco chateado diante das minhas sucessivas recusas ("Cheddar?" não, obrigada; "Catupiry?" não, obrigada; "Vinagrete?" não, obrigada, só os molhos e batata palha; "E queijo ralado?" também não, obrigada), mas não é pessoal.

A simpatia desse tiozinho e das outras pessoas que trabalham no estabelecimento Big Dog é outro ponto forte do local, um dia eu vou aceitar o purê de batata só pra ver esse homem sorrir. Em breve pesquisa no Google descobri que o estabelecimento Big Dog é uma empresa familiar que existe há 40 anos na USP, "alimentando gerações". A página deles no Facebook é uma das poucas coisas puras que ainda existem naquela rede social e o Trash Advisor apoia essa causa.

(Fonte: divulgação)

Na minha última visita paguei R$16,50 (valor exato) pelo cachorro-quente + um doce pingo de leite. Não é exatamente barato, mas em São Paulo tudo é caro. Além de ser um lugar que vale a pena frequentar quando se busca aquele carinho estômago, o estabelecimento Big Dog vai além e oferece também um carinho na alma.

8/10

***

Como hoje é sexta-feira, gostaria de deixar vocês com uma #pensata. Pode parecer contraditório eu estar nessa jornada vegana e gostar tanto de cachorro-quente, mas a verdade é que o cachorro-quente é um dos pratos mais facilmente adaptáveis à dieta vegana sem perda de qualidade. A salsicha de origem animal é tão de mentira que é perfeitamente possível substituí-la por um troço igualmente artificial, mas sem proteína animal. O importante são os compostos químicos, o gostinho de césio-137 e a manutenção da tradição fast-food de oferecer um prato meio podrão e sem frescura. Não é o caso do que a maioria dos estabelecimentos faz, vendendo uma proposta gourmet e saudável, e essas pessoas estão erradas. Não faz parte do ethos do bom cachorro-quente ser saudável ou chique.

Devido ao desmonte das universidades públicas ontem eu também precisava muito comer um cachorro-quente e fui atrás dele no estabelecimento Fôrno, no centro de São Paulo. Na verdade eu queria mesmo era comer uma pizza, mas como meus amigos escolheram o hot-dog eu pedi também porque não queria passar vontade. Ele era minimalista do jeito que gosto, com linguiça especial apimentada na medida certa e uma mostarda muito gostosa. A quantidade insana de batata frita transforma isso numa refeição. Adorei, mas era um cachorro-quente de R$25,00 que não oferecia o tipo de emoção que busco quando como um cachorro-quente. Aí não.

(Fonte: acervo pessoal)

É engraçado como existe o mito de que toda alimentação é vegana é saudável. As pessoas descobrem que a bolacha Oreo é vegana como se isso fosse revolucionário, quando na verdade só significa que nada ali é natural ou provém do reino dos céus. Eu acredito nesse potencial do cachorro-quente vegano. Fica aí a reflexão.

You cover up is caving in
Man is such a fool, why are we saving him?
Poisoning themselves now
Begging for our help, wow